Amor e Crime, Castigo e Redenção na Glória da Cruzada de Reconquista

Afonso VIII de Castela nas batalhas de Alarcos (1195) e Las Navas de Tolosa (1212)

Ricardo da COSTA

InOLIVEIRA, Marco A. M. de (org.). Guerras e Imigrações.
Campo Grande: Editora da UFMS, 2004, p. 73-94
(ISBN 85-7613-023-8).

InRevista Brasileira de História Militar, ano I, n. 2,
agosto de 2010, p. 01-21
(ISSN 2176-6452).

In: COSTA, Ricardo da. Delírios da Idade Média.
Santo André, SP: Armada, 2023, p. 23-42
(ISBN 978-65-87628-26-4).

Imagem 1

Escudo de armas da cidade de Évora (Portugal, século XIV). O cavaleiro cristão empunha uma pesada espada. Acima dele, a Virgem e Cristo. Abaixo, cabeças de muçulmanos degolados. Durante muitos anos, a cidade de Évora foi o centro militar de resistência contra os almôadas.1

Na Idade Média, os homens iam para a guerra felizes. Existia uma grande polarização: enquanto os camponeses sofriam com as mortes e as devastações dos campos, os cavaleiros cantavam, caminhando e cavalgando ansiosos para a luta. A primavera era o tempo propício. Havia também um grande paradoxo: enquanto as flores desabrochavam e a natureza renascia do inverno hibernante, os poetas e trovadores do espírito cavaleiresco anunciavam a chegada da vida e o momento do combate.

Por exemplo, Bertrand de Born (1159-1197) exaltou as flores e as folhas coloridas, as aves que cantavam e os cavaleiros que, felizes, gritavam “avante” em direção à morte2:

Depois de ter começado a lutar, nenhum nobre cavaleiro pensa em outra coisa a não ser romper cabeças e armas, melhor um homem morto do que um vivo e inútil (...) Barões, é melhor que percais castelos, vilas e cidades antes de vos recusardes, qualquer um de vós, a ir para a guerra.3

Essa excitação, esse sentimento de euforia eram freqüentes naqueles homens rudes e violentos, sempre dispostos ao combate corpo-a-corpo e ao tilintar viril das espadas e dos escudos.

Essa era a guerra laica, uma festa, como um torneio.4 Mas havia ainda uma guerra mais importante, solene, sagrada, que conferia ao combatente cristão a glória do Paraíso e as bem-aventuranças eternas: a cruzada. Guerra santa, guerra de duas visões, de duas religiões. Na Península Ibérica, a mentalidade de cruzada penetrou pouco a pouco por entre a nobreza, em parte graças à imigração de cavaleiros franceses5, em parte graças à atuação da abadia de Cluny na difusão dessa mentalidade6, sempre com o apoio do papado, em parte, devido à atuação das ordens militares, sempre prontas a difundir o novo ideal cavaleiresco do monge-cruzado.7

E foi justamente no final do reinado de Afonso VIII (1158-1214), o Nobre, de Castela, que o caráter de cruzada foi definitivamente associado à Reconquista. Isso aconteceu devido, principalmente, ao segundo avanço islâmico dos almôadas, em 1179. Esta dinastia norte-africana (1130-1269), que se auto-intitulava “crentes na unidade de Deus”, era ainda mais intolerante que a anterior, dos almorávidas (1056-1147), pois pregava uma rigorosa moralidade baseada no Alcorão.

Espécie de monges-soldados, os almôadas tinham uma aversão natural à “civilização depravada” almorávida de al-Andaluz8, como mostra esta passagem da obra Kitab al-Muchid:

Os almorávidas abandonaram-se uns aos outros, cedendo seu gosto pelo repouso e a tranqüilidade e caindo sob a autoridade das mulheres. Chegaram a ser objeto do desdém e do desprezo dos habitantes de al-Andaluz, provocando a audácia dos inimigos. E assim, os cristãos se apoderaram de numerosas praças fortes vizinhas de suas fronteiras.9

Assim, partindo do Marrocos em 1179 - sede de seu império - os almôadas, além de findarem a dinastia almorávida, impingiram uma série de derrotas aos cristãos. A mais espetacular delas, de Alarcos (1195), foi também a última vitória dos muçulmanos norte-africanos na Península Ibérica.10

Afonso VIII participou, e foi derrotado, na batalha de Alarcos. Dezessete anos depois, venceu os muçulmanos no confronto mais famoso da história da Reconquista, a batalha de Las Navas de Tolosa (1212), sepultando definitivamente as pretensões muçulmanas em al-Andaluz e associando definitiva e indelevelmente a mentalidade de cruzada à Reconquista.

Neste artigo, analisarei brevemente a construção da imagem bélica de Afonso VIII e sua incrível história de amor e crime, castigo e redenção contida na Crónica Geral de Espanha de 1344, documento escrito pelo conde D. Pedro, filho bastardo do rei D. Dinis de Portugal.11 Minha perspectiva será a dos atores da época. Minha forma, a narrativa12. Meu método, a análise comparativa de textos da época: confrontarei a Crónica Geral de Espanha de 1344 com a Crónica latina de los reyes de Castilla13, a Primera Crónica General (Estoria de España) que mandó componer Alfonso X, el Sabio14, uma carta do arcebispo de Narbona15 e quatro textos muçulmanos.16 Assim, o leitor terá uma boa perspectiva dos dois lados da luta, além de uma melhor percepção da singularidade da "narrativa fantástica" contida na Crónica de Espanha.

I. Afonso VIII, D. Leonor e a “bruxa” judia

Conta a Crónica Geral de Espanha que, em 1170, Afonso VIII “já era um homem” (tinha doze anos!), quando seus embaixadores trouxeram a filha do rei Henrique II da Inglaterra, Leonor (1161-1214), para se casar com ele. Ela tinha nove anos.17 Logo após seu casamento, o rei esteve em Toledo, quando conheceu e se enamorou por uma judia, provavelmente de uma rica família, pois em Toledo as mulheres judias gozavam de uma grande independência econômica.18

Afonso ficou tão apaixonado por aquela “bruxa judia” que se esqueceu de Leonor, de seu reino, de si próprio e de qualquer outra coisa. O arcebispo Rodrigo disse que ele esteve "ençarrado" com ela durante sete meses; “E dizem alguns que este tão grande amor que ele tinha por esta judia não era senão por feitiços que ela sabia fazer”.19

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Afonso VIII e a rainha Leonor concedendo a cidade e a vila de Uclés ao mestre da Ordem de Santiago (Miniatura del Tumbo Menor de Castilla. Archivo Historico National. Madrid).20

No entanto, os condes, cavaleiros e ricos-homens de Castela, vendo o reino em grande perigo, degolaram-na. Afonso ficou inconsolável. Uma noite, quando estava pensando naquela "maldita", um milagre aconteceu: apareceu-lhe um anjo, que o repreendeu e disse-lhe que não teria filho varão para reinar, pois Deus castigá-lo-ia. Quando partiu, o rei ficou muito triste e a câmara real foi inundada com um "maravilhoso odor e uma grande claridade".21

Por este pecado, o rei Afonso, "homem muito honrado, mui nobre e de grande entendimento, liberal e amante da justiça"22, foi derrotado em Alarcos! Essa é a compreensão do cronista, típica compreensão medieval dos processos históricos. Além disso, segundo a Crónica, os cristãos também foram derrotados porque os nobres castelhanos não se esforçaram como deviam na batalha, pois estavam desonrados (com ciúmes!) dos elogios que Afonso VIII fez aos cavaleiros da Estremadura.23

II. A batalha de Alarcos (1195): os depoimentos muçulmano e cristão

Desde 1177, com a conquista de Cuenca, Afonso havia conseguido alguns avanços importantes no território muçulmano, tomando e ocupando fortalezas e entregando-as às ordens militares.24 Os monges-cavaleiros, pelo menos desde 1150, estavam na linha de frente da Reconquista, travando os combates mais decisivos.25

Para guardar essa fronteira, Afonso iniciou a construção da vila de Alarcos, um pouco ao norte do rio Guadiana, ameaçando dali várias cidades e fortalezas muçulmanas, das quais passou a exigir um importante botim.26 Além disso, promoveu o processo de repovoamento, “povoando” uma série de vilas na Estremadura, “sem deixar de fazer mal aos mouros”.27

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A Vila de Alarcos.

A reação islâmica não se fez esperar. Forças muçulmanas, a mando do sultão do Marrocos Yacub ben Yusef I (1184-1199), atravessaram o Estreito e dirigiram-se a Córdoba. Ali, descansaram três dias. Segundo o cronista andaluz Ibn Idari, em sua obra Al-Bayán al-Mugrib28, datada do século XIII, uma força de cavalaria cristã avançou contra Calatrava, fortaleza que se encontrava a meio caminho entre Córdoba e Alarcos (imagem 4), para saber notícias daquela nova invasão. Contudo, foi rechaçada pelos ocupantes do castelo, que foram de encontro às forças cristãs “como o faminto corre para a comida ou o sedento para a água”.29

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A ofensiva da Cristandade sobre o Islã. Observe que entre as batalhas de Alarcos e Las Navas de Tolosa, o limite entre as duas culturas encontrava-se entre os rios Tejo e Guadiana, já no centro-sul da Península.30

Os cristãos fugiram em debandada. Sua correria foi o “prenúncio da vitória” muçulmana. Em seu texto, Ibn Idari destacou os eloqüentes discursos dos líderes muçulmanos que levantaram os ânimos dos combatentes: o vizir Abu Yahya, que fez os ouvintes chorarem de emoção; o cádi Abu Ali ibn Hachchach, que os incitou à guerra santa, quando as gentes “se retiraram com suas inteligências iluminadas e purificadas em direção a Deus, suas almas se fortificaram e sua bravura e intrepidez redobraram”, e al-Mansur, que, no meio da batalha, pronunciou um discurso tão belo que “incendiou as almas”, e cada pelotão atacou o inimigo mais próximo, incendiando a luta até a vitória.

O “maldito” Afonso escapou, mas, segundo o cronista, morreram trinta mil cristãos. Apenas quinhentos muçulmanos “sofreram o martírio”. Dessa forma, “os enganos dos politeístas” cristãos e as “fraudes daqueles infiéis” foram desmascaradas.31

Por sua vez, a Crónica latina de los reyes de Castilla, mais realista, conta que a tática vitoriosa dos muçulmanos foi o cansaço e o ataque surpresa: sabendo que os cristãos já tinham chegado ao campo de batalha logo pela manhã, o sultão ordenou que os seus descansassem, deixando o exército inimigo aguardando sob o sol e fatigando-o com o peso das armas e a sede até depois do meio-dia. Assim ficaram até o dia seguinte.

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Maqāma (مقامة) de Hariri (1237), de Yahya ibn Mahmud al-Wasiti (يحيى بن محمود الواسطي‎, pintor e calígrafo do séc. XIII). Manuscrito da Biblioteca Nacional de Paris.32 Papel, 24,3 × 26,1 cm. Esta cena representa o momento que antecede o combate. Os guerreiros rufam os tambores e tocam as trombetas (sons escatológicos), para atemorizar o inimigo.

Por volta da meia-noite, o exército muçulmano se preparou para a batalha e atacou o acampamento cristão nas primeiras horas da manhã do dia seguinte. A imprevista presença dos mouros “produziu simultaneamente estupor e temor nos inimigos”, que saíram das tendas desordenadamente:

Uma quantidade inumerável de flechas lançadas dos arcos voou pelos ares e, enviadas ao desconhecido, feriram os cristãos com um golpe certeiro. Ambos os bandos lutaram com força. O dia, pródigo em sangue humano, enviou mouros ao Tártaro e trasladou cristãos aos palácios eternos.33

Por sua vez, a Crónica Geral de Espanha é bastante sucinta em relação à derrota cristã de Alarcos. De início, o cronista nos diz que, assim que soube do avanço almôada, Afonso chegou a Alarcos e, imprudentemente, não quis aguardar a chegada de reforços34 - notícia confirmada pela Crónica latina de los reyes de Castilla: “O glorioso rei de Castela não quis esperar o rei de Leão, que marchava em sua ajuda e já se encontrava em terras de Talavera, por mais que lhe dessem esse conselho os homens prudentes e conhecedores das coisas da guerra.”35 E prossegue:

Estando o rei D. Afonso em Alarcos, chegou o mouro com um poder tão grande que não se podia contar. E o rei entrou logo na batalha contra ele, como um cavaleiro muito corajoso. O combate foi muito forte de ambas as partes, mas Jesus Cristo não quis que os cristãos saíssem no fim com honra, porque nem todos tinham um só coração, nem ajudaram seu senhor como deviam. Por isso, foram vencidos e muitos deles morreram, e no fim, com grandes ferimentos, o rei foi retirado à força, pois queria morrer ali, mas os seus não o deixaram, fugindo com ele para Toledo.36

Outro cronista muçulmano, Marrakuxi, afirma que Afonso se salvou com apenas trinta de seus oficiais, e o sultão, avançando até Calatrava, conquistou diversas fortalezas que rodeavam Toledo, retornando a Sevilha “ornado com a auréola da vitória”.37

Apesar de jovem e impulsivo, Afonso entendeu a mensagem divina: aquela derrota fora um castigo de Deus pelo pecado que cometeu, isto é, por ter amado loucamente a judia de Toledo, como já lhe dissera o anjo. Neste momento paradigmático, a narrativa marca a mudança radical da vida do rei:

Conta a estória que, depois que o rei D. Afonso foi vencido naquela batalha de Alarcos, esteve sempre muito triste e quebrantado, acreditando que, por causa de seu pecado, Deus lhe dera aquela penitência. Por isso, obrou para corrigir sua vida e fazer serviço a Deus em tudo o que podia, dando grandes esmolas e reconciliando-se com todos que sabia que não lhe queriam bem, especialmente os fidalgos, pois entendeu que eles estavam escandalizados por causa das palavras que dissera. Então, concedeu-lhes muitos benefícios, de tal maneira que ganhou seus corações para seu serviço.38

A construção literária do cronista não deixa dúvida: para o homem medieval, o campo de batalha era o local do ajuste de contas com Deus.39 O povo (“as gentes”) sempre arcava com as conseqüências dos pecados de seu líder. No pensamento político medieval, rei e súditos eram como um só corpo.40

Assim, Afonso prosseguiu em sua via crucis redentora: construiu escolas e pagou “grandes somas” aos mestres, “para que os estudantes não tivessem desculpa para aprender”; construiu ainda um mosteiro, herdando-o com muitas posses, e um hospital para cuidar dos doentes:

...e aos pobres que vão ali, dão do que comer e boas camas, cuidando dos enfermos até que fiquem sãos; e os que aí morrem são soterrados honradamente, para que o nome do rei, que em vida sempre foi muito bom, tenha honra neste mundo, e que roguem a Deus por ele e por todos os outros reis que foram bons e direitos, que lhes dê o Paraíso. Amém.41

III. Preparativos para a guerra santa

Enquanto passava por aquele processo de conversão, Afonso pediu ao arcebispo D. Rodrigo que fosse ao papa Inocêncio III solicitar a cruzada. Após a anuência papal, começaram a vir para Toledo grandes companhias de cruzados, provenientes de todas as partes da Europa. Violentos, de muitas linguagens, eles “faziam muito mal, pois matavam os judeus e faziam muitas outras travessuras”.42 A eles juntou-se o rei D. Pedro II de Aragão, o Católico (1196-1213), com barões de alta linhagem, condes, viscondes e prelados, e o rei D. Sancho VII de Navarra, o Forte (1194-1234), com mil e trezentos cavaleiros.43

No total, se dermos crédito à Crónica de 1344, o movimento de cruzada conseguiu reunir trinta mil homens a cavalo e incontáveis homens a pé, todos bem pagos por D. Afonso com maravedis, “moeda que então corria e que era muito boa”.44 Por fim, não poderiam deixar de estar presentes os mestres das ordens militares de Santiago, de São João de Jerusalém, de Calatrava e do Templo45, conferindo, assim, um caráter sagrado ao combate que estava preste a acontecer.

Partindo de Toledo, o grande exército cruzado sitiou e conquistou a fortaleza de Malagón, “matando e queimando todos os mouros”. Dali fizeram o cerco ao castelo de Calatrava, já no limite entre os dois mundos, terra de ninguém que suscitava a imaginação da percepção geográfica dos cristãos.46 Após sitiarem-no maravilhosamente, “com tantas flechas e pedras que nenhum mouro ousava aparecer nos muros”47, foi feito um acordo para sua rendição. Generoso, Afonso VIII mandou dar tudo o que tinha no castelo aos reis de Aragão e de Navarra e a todos que vieram de fora do reino. Sua prodigalidade real era a cavaleiresca, a largueza, típica mentalidade medieval da nobreza.48

Entrementes, o rei almôada Abu Yusuf al-Nasir de Marrocos (na Crónica de 1344 chamado de Miramolim)49, que concentrava suas gentes em Jaén, ao sul do rio Guadalquivir (ver imagem 4), aguardava o avanço cristão, contando com as prováveis doenças e mortes do exército em decorrência da insalubridade da água do rio Guadiana. Quando soube que muitos franceses morreram envenenados por aquele motivo, satisfeito, Miramolim avançou calculadamente suas hostes para impedir o abastecimento do inimigo.

D. Afonso ordenou então que três barões saíssem em busca de suprimentos, com cerca de dez mil cavaleiros. Este grupo chegou ao castelo de Ferral (Castro Ferral, ver imagem 7), que tinha os caminhos cercados pelos mouros. Impedidos de prosseguir, os cristãos receberam a graça do milagre divino: com a ajuda de um pastor angélico (“certamente anjo de Deus era”50), eles foram guiados através de um estreito até uma serra com bons prados, chamada “seda do imperador”51, e ali, em um sábado, abasteceram seus exércitos.52

Com o retorno dos barões, os reis ordenaram que armassem suas tendas em frente aos mouros. Dessa vez impaciente, Miramolim armou sua tenda à direita da do rei de Castela, colocando suas azes cheias de mouros acaudilhadas por “muitos reis e altos homens”.53 No entanto, dessa vez os cristãos não tiveram pressa: percebendo o “ardil dos mouros” e vendo que seus cavalos estavam fatigados por terem atravessado o estreito, decidiram descansar, deixando o rei almôada esperando em campo de batalha.

Enquanto isso, o arcebispo de Toledo, D. Rodrigo, aquele que fora ao papa solicitar o chamamento de cruzada para essa batalha, pregava. Pedia a todos que comungassem, concedendo o perdão divino aos que entrassem na batalha com o coração puro. Era um domingo. No dia seguinte, após a missa matinal, quando os prelados deram o Santo Sacramento aos guerreiros, a cavalaria pôs-se em marcha, com o sol irradiando sua luz.54

IV. A cruzada de Las Navas de Tolosa (1212)

A procissão guerreira teve início na segunda-feira. A alegria e o entusiasmo dos combatentes confundiam-se com as cores do desabrochar da primavera e multidão de cores dos brasões e símbolos das distintas linhagens que se misturavam na cavalgada cruzada (ver imagem 6).

O teatro litúrgico da guerra apresentava seus protagonistas. Afonso VIII era o ator principal; os coadjuvantes organizaram-se ao seu redor. Assim, nas laterais do rei, de um lado, D. Rodrigo Dias de Cameiros, com vários nobres e concelhos de várias vilas55; de outro, o conde D. Gonçalo de Lara, acompanhado pelas ordens militares de Santiago, São João e Calatrava e uma multidão de concelhos. D. Afonso cavalgava na az posterior, com o arcebispo de Toledo a seu lado e muitos condes e fidalgos; à sua direita, o rei de Navarra, à sua esquerda o de Aragão.

Imagem 6

Batalha de Las Navas de Tolosa. Afonso X, Cantigas de Santa Maria. Manuscrito em pergaminho (50 x 34 cm). Castela (c. 1260-1270). BnF, Manuscritos (Fac-símile ms. T.l.1 fol. 92, Madrid, Patrimônio nacional).

Com essas lideranças, as azes moveram-se pelo campo aberto. Então apareceu no céu uma cruz muito formosa e de muitas cores. Os cristãos viram nela o bom sinal, indício da vitória.56

Imagem 7

Las Navas de Tolosa de acordo com um mapa do século XVI.57

Do outro lado, o mal - é importante que o historiador se coloque no mesmo ponto de vista da narrativa principal que analisa, na visão do escritor da época, em seu simbolismo maniqueísta de suas representações mentais.58 Assim, o chefe das forças maléficas, Miramolim, desfilou com suas azes muito bem ordenadas, cheias de mouros e lideradas por capitães muito nobres. Próximo à sua tenda, o islamita ordenou que fosse feita uma az de curral para protegê-lo. Nela, o cronista cristão destacou a vergonha: homens armados a pé defendiam o sultão, mas estavam presos em cadeias de ferro para não fugirem. Cativos. Eram cem mil homens negros, muçulmanos, armados de lanças, espadas e adagas, acompanhados de arqueiros e besteiros. Um exército de prisioneiros no exército muçulmano.59

Não satisfeito com tamanha proteção, dentro daquela az de curral, trinta mil homens guardavam ainda mais a preciosidade: o corpo do sultão. Uma multidão, portanto.60 E todo o exército? Contá-los, diz o cronista, era impossível: “não há homem que possa imaginar nem dar conta”.61 Ouvi-los, seria um grande espanto – uma das diferenças dos exércitos cristão e muçulmano dizia respeito ao som: enquanto os cristãos guerreavam em silêncio, os muçulmanos utilizavam tambores e trombetas (ver imagem 5).

O primeiro e decisivo impacto contra as hostes mouras foi de D. Diego Lopez e D. Garcia Romeiro. Eles estavam tão aguerridos que, por onde passavam, “parecia que um fogo queimava”. Quando, a seguir, chegaram as forças de D. Afonso, os muçulmanos começaram a fugir. Atônito, Miramolim, fazendo soar as trombetas e os atabaques, cavalgou em um cavalo de muitas cores e, aos gritos, incitou a todos que retornassem à batalha.62

Por sua vez os cristãos eram incentivados por D. Afonso, que proferia discursos em meio ao combate.63 Seus golpes eram tão fortes que “um fogo acendia as ervas”. Assim, as hostes do sultão foram pouco a pouco sendo desbaratadas até que os cruzados chegaram à az de curral, onde estavam os negros muçulmanos prisioneiros, presos em cadeias de ferro. Parecia impossível romper aquela barreira humana. Então, num gesto de ousadia, D. Álvaro Nunes, que carregava o pendão do rei, feriu seu cavalo com as esporas e saltou por cima da az, sendo seguido pelo rei de Aragão e o de Navarra.

Os outros cavaleiros viram esse gesto de ousadia e coragem de D. Álvaro, típico da impetuosidade que se esperava de um cavaleiro cruzado.64 Então, todos também saltaram dentro da az de curral, e a batalha “foi a mais forte e cruel, e houve ali mui grandes e mui célebres golpes, com tal mortandade de mouros que foi uma grande maravilha”.65

Vendo sua az de curral partida e os seus derrotados, Miramolim cavalgou “em seu cavalo de muitas cores” e fugiu. Os “mui nobres” reis cristãos saíram em seu encalço, mas eram tantos os corpos que jaziam no chão que seus cavalos não puderam prosseguir. O sultão chegou a Baeça e informou aos mouros o triste resultado da batalha. Depois partiu para Jaén.

Esgotado, mas vitorioso, Afonso VIII descansou na tenda de Miramolim. Nos dois dias seguintes, os cristãos colheram os ricos despojos da batalha dispersos no campo - ouro, pedras preciosas, tecidos de seda, cavalos e armas (o dinheiro há muito invadira a estrutura da guerra no século XIII.66 Além de buscarem o material, o cristãos ainda mataram muitos mouros que jaziam estirados junto aos cadáveres.67 Segundo o arcebispo D. Rodrigo, de oitenta mil cavaleiros mouros que participaram da batalha, trinta e cinco mil morreram, e o número de peões ultrapassou duzentos mil. Da parte dos cristãos, apenas cento e cinqüenta homens! “E assim Deus se mostra maravilhoso em Suas obras”.68

Após aquela estrondosa vitória cristã, o cronista português nos conta que a ira de Deus recaiu sobre a Espanha, pois foi um ano tão ruim e “minguado de pão” que os homens caíram mortos de fome, o fruto da terra faleceu e os animais e aves também não frutificaram. Ira de Deus pela vitória cristã? Não, apenas mais um momento de renovação do pacto divino com o rei, uma oportunidade para Afonso VIII ser generosamente cristão ser definitivamente perdoado pelo pecado da luxúria, por ter-se sujado com a bruxa judia: “E morreram naquele ano muitos cavalos e bestas de servir por míngua dos mantimentos que não havia. E com tanta pestilência e fome na terra, o bom rei nunca cansou de bem fazer, dando grandes esmolas pelo amor de Deus”.69

Assim purificado pelo combate sagrado, Afonso VIII, o herói-cruzado de Las Navas de Tolosa, faleceu em 1214. Na presença de sua família (D. Leonor, sua mulher, de D. Biringuela, sua filha, de seu filho D. Henrique e seus netos D. Fernando e D. Afonso), e dos bispos de Valência e D’Ávila, ele recebeu o Santo Sacramento do corpo de Cristo das mãos do arcebispo D. Rodrigo70, o mesmo D. Rodrigo que fora ao papa pedir os votos de cruzada para a batalha de Las Navas de Tolosa, a cruzada mais célebre da Reconquista.71

*

Por sua vez, no Anônimo de Copenhage, obra escrita por um muçulmano contemporâneo à derrota de Las Navas de Tolosa72, a descrição do combate é naturalmente muito mais sucinta:

Este ano foi o da batalha de Uqab (las Navas), que causou a ruína de al-Andaluz. O emir al-Muminin al-Nasir dirigiu-se ao país inimigo do maldito Afonso com um grande exército muçulmano. Os infiéis prepararam-se, e toda a gente de Castela e de outros diferentes reinos da cristandade próximos a ela; os dois exércitos se encontraram no sítio chamado al-Uqab e a vitória se declarou primeiro aos muçulmanos.

Mas os almôadas não se esforçaram nem se portaram bem nesta expedição por causa do castigo que al-Nasir impôs aos xeques almôadas e por havê-los condenado à morte e os despojado pelas mãos de Ibn Mizna.

O barcelonês (rei de Aragão) acudiu Afonso com três mil cavalos (...) os muçulmanos deram as costas e a derrota se estendeu a eles. Al-Nasir permaneceu com tal constância que o inimigo quase se apoderou de sua pessoa, e as lanças cristãs já se aproximavam quando ele buscou a salvação na fuga. Esta batalha aconteceu na segunda-feira, 8 de Safar, do citado ano.

Contam que alguns diziam: “Diga a Ibn Mizna que resista a esta inundação”, aludindo com isto ao ministro que executou os xeques almôadas. Desculpando-se do resultado dessa batalha, al-Nasir escreveu a Marraquech e a outras partes.73

O cronista deu mais ênfase aos dispendiosos preparativos de Al-Nasir (Miramolim) para o combate do que para a derrota. E apesar da declaração da falta de esforço do exército muçulmano, a crônica desvalorizou a vitória cristã, pois creditou o insucesso almôada a uma execução que al-Nasir ordenou de alguns xeques almôadas dias antes da batalha.74

Por fim, outro cronista muçulmano, Ibn Abi Zar, em sua obra Rawd al-Quirtas75, nos oferece um relato tão dramático e vivo da batalha – com diálogos, inclusive – que merece ser transcrito na íntegra:

Quando Afonso ouviu que al-Nasir havia tomado Salvaterra, dirigiu-se contra ele com todos os reis cristãos, que acompanhavam-no com seus exércitos. Ao saber disso, al-Nasir saiu ao seu encontro com as tropas muçulmanas: os combatentes se avistaram em um sítio chamado Hisn al-Iqab.76 Ali aconteceu a batalha. Foi plantada a tenda vermelha, disposta para o combate, no cume de uma colina. Al-Nasir ocupou-a e sentou-se sobre seu escudo, com o cavalo ao lado; os negros rodearam a tenda por todas as partes com armas e apetrechos.

A retaguarda, com as bandeiras e tambores, colocou-se diante da guarda negra, com o vizir Abu Said ben Djami. O exército cristão se dirigiu contra eles, em filas, como nuvens de gafanhotos; os 160.000 voluntários saíram ao seu encontro e caíram sobre eles, mas desapareceram entre as filas dos cristãos, que os cobriram e os combateram terrivelmente. Os muçulmanos resistiram heroicamente; todos os voluntários morreram como mártires, sem restar nenhum. As tropas almôadas, árabes e andaluzas olhavam-nos sem se mover.

Quando os cristãos acabaram com os voluntários, caíram sobre os almôadas e sobre os árabes com uma pressão extraordinária (...) Quando os almôadas, os árabes e os berberes viram que os voluntários haviam sido exterminados, que os andaluzes fugiam, que o combate aumentava contra os que permaneciam, e que cada vez mais os cristãos eram mais numerosos, debandaram e abandonaram al-Nasir. Os infiéis os perseguiram, espada em punho, até chegarem ao círculo de negros e guardas que rodeavam al-Nasir como um sólido muro, mas não puderam abrir nenhuma brecha. Então flanquearam seus cavalos encouraçados contra as lanças dos negros que estavam direcionadas contra eles, e entraram em suas fileiras.

Al-Nasir continuava sentado sobre seu escudo, diante sua tenda, e dizia: “Deus disse a verdade e o demônio mentiu”, sem mover-se de seu sítio, até que os cristãos se aproximaram dele. Morreram ao seu redor mais de 10.000 dos que formavam sua guarda. Um árabe, então, montado em uma égua, aproximou-se e lhe disse: “Até quando vais continuar sentado? Oh, Príncipe dos Crentes, o juízo de Deus já se realizou, cumpriu-se Sua vontade e pereceram os muçulmanos.”

Então, al-Nasir se levantou para montar o veloz corcel que tinha a seu lado, mas o árabe, desmontando de sua égua, lhe disse: “Monta nesta que é de puro sangue e não sofre ignonímia, talvez Deus te salve com ela, porque em tua salvação encontra-se o nosso bem”.

Al-Nasir montou na égua e o árabe acompanhou-o em seu cavalo, ambos rodeados por um forte destacamento de negros, com os cristãos em seu encalce. A degola dos muçulmanos durou até a noite, e as espadas dos infiéis caíram sobre eles e os exterminaram completamente, tanto que, de mil, nenhum se salvou. Os arautos de Afonso gritavam: “Matem e não façam prisioneiros; aquele que trouxer um prisioneiro será morto com ele”. Foi assim que o inimigo não fez um só cativo neste dia.

Esta terrível calamidade aconteceu na segunda-feira, 15 de Safar de 60977, quando, a partir dessa derrota, começou a decair o poder dos muçulmanos em al-Andaluz, e suas bandeiras não alcançaram mais vitórias; o inimigo propagou-se por causa dela e se apoderou de seus castelos e da maioria de suas terras. Eles teriam conquistado tudo se Deus não lhes houvesse concedido o socorro do emir dos muçulmanos, Abu Yusuf ben Abd al-Haqq, que restaurou suas ruínas, reedificou seus minaretes e devastou o país dos infiéis com suas expedições.78

*

Confrontando o relato de Ibn Abi Zar e o do Anônimo de Copenhage com a Crónica de 1344, percebo algumas semelhanças nas descrições da batalha: 1) Al-Nasir (Miramolim) tinha uma grande proteção de soldados negros (embora Abi Zar não descreva as correntes que os prendiam); 2) os cristãos romperam aquele escudo humano com um ousado rompante da cavalaria; 3) corajoso, o sultão deixou o teatro da guerra momentos antes de ser capturado e 4) seguiu-se, após o fim do combate, um grande massacre por parte das forças cristãs.

Em suma, com exceção das interferências divinas - o anjo-pastor, especialmente - e do motivo primeiro das batalhas de Alarcos e Las Navas - o castigo de Deus pelo amor louco de Afonso pela judia de Toledo e Seu perdão - as crônicas basicamente concordam nas linhas mestras daquela narrativa bélica.

E de todas as narrativas, a Crónica de 1344 é, do ponto de vista literário, a mais bem encadeada, a mais entrelaçada de imagens simbólicas entre o mundo dos homens e o mundo de Deus, a que melhor exprime as aberturas para o sagrado que o campo de batalha proporcionava para os crentes de então.79 Las Navas de Tolosa, na perspectiva da época, forçou o céu a manifestar seus desígnios, a mostrar inquestionavelmente de que lado estava a justiça de Deus, de que lado estavam os verdadeiros e legítimos sentimentos dos corações dos guerreiros.

A causa, causa cruzada, era a causa justa, a que deveria ser lutada “com um só coração”, como disseram os cronistas. Como o ordálio e o duelo, acontecimentos decisivos porque buscavam a verdade, a guerra medieval era a grande oportunidade que os crentes tinham de confirmar a vontade de Deus. Pois a batalha campal era a hora de proclamar e remir, o momento da purificação pelo sangue, e o sangue derramado era a garantia da salvação eterna.

Por esses motivos, o amor e o crime, o castigo e a redenção entrecruzaram-se na narrativa fantástica da cruzada da Península que teve como pano de fundo a redenção do rei Afonso VIII. Sem essa perspectiva escatológica, não se pode compreender a guerra medieval, guerra em sua maior parte travada em nome de Deus.

Notas

  • 1. In: MATTOSO, José (dir.). História de Portugal - Antes de Portugal. Lisboa: Editorial Estampa, s/d., vol. 2, p. 428.
  • 2. “Já não encontro tanto sabor no comer, no beber, no dormir / como quando ouço o grito “Avante!” / elevar-se dos dois lados, o relinchar dos cavalos sem cavaleiros na sombra / e os brados “Socorro! Socorro!” / quando vejo cair, para lá dos fossos, grandes e pequenos na erva; / quando vejo, enfim, os mortos que, nas entranhas, / têm ainda cravados os restos das lanças, com as suas flâmulas.” - Citado em BLOCH, Marc. A sociedade feudal. Lisboa: Edições 70, 1987, p. 307.
  • 3. Citado em PRESTWICH, Michael. “A Era da Cavalaria”. InA Arte da Guerra. Série História em Revista. Rio de Janeiro: Abril Livros / Time-Life Books, 1993, p. 52.
  • 4. Curso de Literatura Inglesa. Jorge Luis Borges (org., pesquisa e notas de Martín Arias e Martín Hadis). São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 105.
  • 5. MATTOSO, José. “Cluny, Crúzios e Cistercienses na formação de Portugal”. InPortugal Medieval — novas interpretações. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985, p. 107.
  • 6. COSTA, Ricardo da. A Guerra na Idade Média - um estudo da mentalidade de cruzada na Península Ibérica. Rio de Janeiro: Edições Paratodos, 1998, p. 72.
  • 7. COSTA, Ricardo da. A Guerra na Idade Média, op. cit., p. 89.
  • 8. CAHEN, Claude. El Islam. I. Desde los orígenes hasta el comienzo del Imperio otomano. Madrid: Siglo XXI, 1992, p. 295.
  • 9. “Kitab al-Muchid, o Marrakuxi”. In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.). La España Musulmana — según los autores islamitas y cristianos medievales. Madrid: Espasa-Calpe S. A., 1986, tomo II, p. 267-268. Todas as traduções aqui apresentadas, tanto do espanhol quanto do português antigo, são de minha autoria.
  • 10. IRADIEL, Paulino, MORETA, Salustiano y SARASA, Esteban. Historia Medieval de la España Cristiana. Madrid: Ediciones Cátedra, 1989, p. 147.
  • 11. Crónica Geral de Espanha de 1344. CINTRA, Luís Filipe Lindley (ed. crítica). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 04 volumes, 1983-1991.
  • 12. Para a discussão do resgate da narrativa nos textos históricos, ver LE GOFF, Jacques. São Luís. Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 23-24.
  • 13. Crónica latina de los reyes de Castilla foi escrita entre os anos 1223 e 1239 provavelmente pelo bispo de Osma e chanceler de Fernando III, Juan Domíngues. In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.). La España Musulmana, op. cit., tomo II, p. 323-329.
  • 14. “De la Estoria de España que mandó componer Alfonso X, el Sabio". In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.). La España Musulmana, op. cit., tomo II, p. 367-381.
  • 15. "Carta de Arnaldo Amalarico, arcebispo de Narbona". In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.). La España Musulmana, op. cit., p. 361-367.
  • 16. BEM IDHARI. “Bayan al-Mugrib, II, 185”, MARRAKUXI, “Kitab al-Muchid”, "Anónimo de Copenhage". In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.). La España Musulmana, op. cit., p. 330-332, 332-333 e 354-361; IBN ABI ZAR. Rawd al-quirtas (ed. de A. Huici Miranda), Valencia 1964. Recogido por Cristina Segura. Publicado na INTERNET: “La Batalla de las Navas de Tolosa segun los musulmanes” (consulta: 26/03/2003).
  • 17. Leonor era filha de Leonor da Aquitânia, mãe de Ricardo Coração de Leão e João Sem Terra. Uma de suas filhas, Branca de Castela (1188-1252), casou-se com o rei da França Luís VIII (1187-1226), pai de São Luís IX (1214-1270).
  • 18. LEÓN TELLO, Pilar. “A Judería, um certo sucesso”. In: CARDAILLAC, Louis (org.). Toledo, séculos XII-XIII. Muçulmanos, cristãos e judeus: o saber e a tolerância. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992, p. 113.
  • 19. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., volume IV, 1991, cap. DCCXLI, p. 282.
  • 20. In: RIBEIRA, Pedro. “Historia de España (Edades Antigua y Media)”. Enciclopedia Labor. Barcelona: Editorial Labor, 1959, p. 128.
  • 21. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCXLI, cap. DCCXLI, p. 283.
  • 22. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCL, p. 297.
  • 23. "El año 1089, encontramos por vez primera mencionado el señor de Lara: se trata de don Gonzalo Nuñez, magnate en la corte de Alfonso VI. Serán sus hijos los que (...) añadan a la casa nuevas y abundantes tierras desde las Asturias de Santillana a la Extremadura del Duero (...) Así, a don Nuño Pérez de Lara que si no fue el mayor de los hijos, sí gozó del más alto prestigio y alcanzó sin peros la capitanía del clan (...) Don Nuño Pérez se ocupó de fundar monasterios (...) y de hacer donaciones benéficas de todo tipo. Su arrogancia y hábil politiquear fueron siempre reconocidos y envidiados. Murió en 1177, luchando junto a su rey en el cerco de Cuenca." - CASADO, Hererra. Los Lara, condes de Molina (consulta no dia 11/06/2003).
  • 24. CORTÁZAR, Garcia de. Historia de España Alfaguarra II. La época medieval. Madrid: Alianza Universidad, 1981, p. 124.
  • 25. MATTOSO, José. “Dois séculos de vicissitudes políticas”. In: MATTOSO, José (dir.). História de Portugal - A Monarquia Feudal (1096-1480). Lisboa: Editorial Estampa, s/d, p. 92.
  • 26. IRADIEL, Paulino, MORETA, Salustiano y SARASA, Esteban. Historia Medieval de la España Cristiana, op. cit., p. 147.
  • 27. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLII, p. 308.
  • 28. IBN IDARI. "Al-Bayán al-Mugrib. Nuevos fragmentos almorávides y almohades". Textos medievales 8, Valencia, 1963; BEM IDHARI. “Bayan al-Mugrib, II, 185”. In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.). España Musulmana, op. cit., tomo II, p. 330-332.
  • 29. BEM IDHARI. “Bayan al-Mugrib, II, 185”. In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.). España Musulmana, op. cit., tomo II, p. 330.
  • 30. In: CORTÁZAR, Garcia de. Historia de España Alfaguarra II. La época medieval. Madrid: Alianza Universidad, 1981, p. 157.
  • 31. BEM IDHARI. “Bayan al-Mugrib, II, 185”. In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.). España Musulmana, op. cit., tomo II, p. 332.
  • 32. In: MATTOSO, José (dir.). História de Portugal 1 - Antes de Portugal. Lisboa: Editorial Estampa, s/d, p. 399.
  • 33. Crónica latina de los reyes de Castilla, II, 13 (Internet).
  • 34. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLIII, p. 309.
  • 35. Crónica latina de los reyes de Castilla, II, 13, op. cit.
  • 36. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLIII, p. 309.
  • 37. MARRAKUXI, “Kitab al-Muchid”. In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.). España Musulmana, op. cit., tomo II, p. 333.
  • 38. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLVI, p. 316.
  • 39. Ver DUBY, Georges. O Domingo de Bouvines. 27 de julho de 1214. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993, p. 157.
  • 40. Ver especialmente KANTOROWICZ, Ernst H. Os Dois Corpos do Rei - Um estudo sobre teologia política medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
  • 41. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLVI, p. 317.
  • 42. Os cruzados de além-Pireneus distinguiam-se dos da Península Ibérica especialmente pelo ardor anti-semita. Por exemplo, quando da tomada de Lisboa em 1147, o rei de Portugal Afonso I teve que conter os ímpetos da turba, pois “os colonenses e flamengos, vendo na cidade tantos excitativos de cobiça, não observam respeito algum ao juramento e fidelidade; correm aqui e ali; fazem presa; arrombam portas; esquadrinham os interiores de cada casa; afugentam os habitantes, afrontando-os com injúrias contra o direito divino e humano; estragam vasos e vestidos; procedem injuriosamente para com as donzelas; igualam o lícito ao ilícito; e às ocultas surrupiam tudo que devia ser dividido por todos. Contra o direito e o lícito matam até o bispo da cidade, já muito idoso, cortando-lhe o pescoço” - Conquista de Lisboa aos Mouros em 1147 - Carta de um cruzado Inglês. Lisboa: Livros Horizonte, 1989, p. 77.
  • 43. As genealogias reais podem ser consultadas em RUCQUOI, Adeline. História Medieval da Península Ibérica. Lisboa: Editorial Estampa, 1995, p. 319-335.
  • 44. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLIX, p. 321.
  • 45. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLIX, p. 321-22.
  • 46. “La imagem dominante de la frontera entre los cristianos era de un desierto ― locus desertus ― um lugar deshabitado...” ― GLICK, Thomas F. Cristianos y musulmanes en la España Medieval (711-1250). Madrid: Alianza Universidad, 1994, p. 75.
  • 47. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLX, p. 323.
  • 48. DUBY, Georges. Guilherme Marechal ou o melhor cavaleiro do mundo. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1987, p. 118. Além disso, Afonso VIII, sabendo que os “estrangeiros” ficaram sem comida, mandou dar mil cargas de mantimentos e cinqüenta mil maravedis. Apesar disso, muitos deles retornaram às suas terras após aquela batalha. Ver Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLX, p. 323-324.
  • 49. E na "Carta de Arnaldo Amalarico, arcebispo de Narbona", chamado de Miramamolím. Ver SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.). La España Musulmana, op. cit., p. 361-367.
  • 50. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLXII, p. 326.
  • 51. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLXII, p. 327.
  • 52. É curioso observar a peculiaridade do fato de o anjo estar representado por um pastor. Para a questão das representações angélicas medievais ver COSTA, Ricardo da e VENTORIM, Eliane. “Entre o real e o imaginado. Prolongamentos apocalípticos angélicos na tradição filosófica medieval: Ramon Llull e o Livro dos Anjos (1274-1283)”. In: Estudos de Religião 23. Revista Semestral de Estudos e Pesquisas em Religião. São Bernardo do Campo: UMESP, 2002, Ano XVI, n. 23, dezembro de 2002, p. 200-228. Ainda, uma lenda piedosa da conquista de Cuenca diz que o pastor Martín Alhaja (ou Alhaxa), que recebera a visita da Virgem Maria, fez os cristãos passarem através da Porta de Aljaraz (atualmente chamada Puerta de San Juan), onde começa a parte alta da ciudad e por onde penetraram castelhanos, leoneses e aragoneses, reforçados pelos cavaleiros da Ordem de Santiago.
  • 53. Na Idade Média, az era a unidade de combate (Az, do latim acies: exército romano formado na linha de batalha. O termo é encontrado na obra de Júlio César, De bello Gallico [I, 51, 1]. Apud: CARCOPINO, Jérôme. Júlio César. Lisboa: Publicações Europa-América, s/d, p. 233-372). Correspondia aproximadamente de 700 a 1.000 lanças ― 2.100 a 3.000 homens. Geralmente, os muçulmanos utilizavam a az de cunha, forma triangular com a ponta para a frente. No caso em questão, os almôadas se valeram da az de curral, formação defensiva em forma de quadrado que tinha como intuito reorganizar as forças dispersas no campo de batalha. Ver COSTA, Ricardo da. A Guerra na Idade Média, op. cit., p. 244-245.
  • 54. A referência ao sol na Crónica não é acidental. Na perspectiva medieval, todo combate é como um raio de luz que rasga as trevas, um feixe que inaugura a boa-nova, a demarcação do fim de um tempo obscuro e o surgimento de um novo tempo, o do Cristo redentor. Ver DUBY, Georges. O Domingo de Bouvines. 27 de julho de 1214, op. cit.
  • 55. Os concelhos medievais ibéricos eram circunscrições administrativas organizadas pelas populações rurais, principalmente as que se encontravam sob governo muçulmano, que reconheciam o caráter representativo das comunidades cristãs e judias. Cada concelho possuía sua própria assembléia de notáveis bons-homens, pequenos proprietários locais, ou ricos mercadores. Elegiam diversos magistrados, com funções administrativas e militares. As comunidades concelhias possuíam privilégios e imunidades em relação ao restante do sistema governamental, o que tornava a sociedade cristã ibérica bastante distinta, do ponto de vista jurídico, do restante da sociedade feudal européia. Ver COSTA, Ricardo da. A Guerra na Idade Média, op. cit., p. 80.
  • 56. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLXIII, p. 329. Um sinal de Deus no céu é um leitmotiv das narrativas medievais: recorde-se, por exemplo, para nos atermos somente à Península Ibérica, ao combate entre as nuvens que os cruzados viram nos céus e que prenunciava a conquista de Lisboa. Ver Conquista de Lisboa aos Mouros em 1147 - Carta de um cruzado Inglês. Lisboa: Livros Horizonte, 1989.
  • 57. In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.) La España Musulmana — según los autores islamitas y cristianos medievales. Madrid: Espasa-Calpe S. A., 1986, tomo II, p. 363.
  • 58. DUBY, Georges. O Domingo de Bouvines. 27 de julho de 1214, op. cit., p. 38.
  • 59. “Como o nome indica, besteiros por combaterem com a besta (ou balestra), arma portátil de arremesso de dardos (virotões ou viratões) extremamente eficiente na penetração das cotas de malhas, escudos e armaduras. A besta era uma “arma composta essencialmente por um arco apoiado numa haste e cuja corda se retesava por meio de uma mola, armazenando energia suficiente para disparar virotes pesados com grande precisão e longo alcance quando se acionava seu gatilho. Desaparecido com as legiões romanas, a besta só ressurgiu na cena européia na batalha de Hastings (1066). Mais mortífera que um arco simples de mão, ela era capaz de derrubar um cavaleiro da sela a 100 metros. No entanto, devido a seu peso, era de difícil manejo e recarregamento demorado, pois necessitava de apoio dos pés e ação simultânea das duas mãos. A partir do século XI, a Igreja tentou regulamentar a prática da guerra. Tentou-se então restringir o uso da besta. O papa Urbano II a condenou em 1096 como “odiosa a Deus”. Finalmente, ela foi banida pelo papa Inocêncio II em 1139, no II Concílio de Latrão, sendo ameaçado de excomunhão quem fizesse uso dela contra cristãos. Assim, a besta foi implicitamente permitida apenas na guerra contra os muçulmanos, naturalmente esta determinação não foi obedecida pelos guerreiros europeus.” ― COSTA, Ricardo da. A Guerra na Idade Média, op. cit., p. 113.
  • 60. Segundo o arcebispo de Narbona, tratava-se de “...uma az fortíssima, segundo eles acreditavam, e na qual se disse que estava o próprio Miramamolím.” – "Carta de Arnaldo Amalarico, arcebispo de Narbona". In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.). La España Musulmana, op. cit., p. 365.
  • 61. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLXIV, p. 330.
  • 62. “...e começou de dar my grãdes vozes, dizendo que fossem bõos e tornassem aa batalha...” - Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLXIV, p. 331.
  • 63. “- Ferideos, amigos e vassallos, ca este he o nosso bõo dia. E agora guaanharemos prez pera sempre e ficaremos ricos e hõrrados.” - Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLXIV, p. 333.
  • 64. “...os cavaleiros eram irresistíveis. Mas só se podia contar com eles para um ataque maciço; era quase impossível reorganizá-los para um novo ataque. Os comandantes cruzados tinham que avaliar o tempo do ataque com perfeição – e controlar seus impetuosos homens até o momento certo.” – PRESTWICH, Michael. “A Era da Cavalaria”. In: A Arte da Guerra. Série História em Revista. Rio de Janeiro: Abril Livros / Time-Life Books, 1993, p. 55.
  • 65. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLXIV, p. 333.
  • 66. DUBY, Georges. O Domingo de Bouvines. 27 de julho de 1214, op. cit., p. 110.
  • 67. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLXV, p. 335.
  • 68. É corrente entre os historiadores que geralmente os números apresentados pelos cronistas medievais são sempre elevados, pois o objetivo era causar a admiração e o espanto do leitor, não fidedignidade à realidade.
  • 69. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLXVII, p. 338-339.
  • 70. Crónica Geral de Espanha de 1344, op. cit., cap. DCCLXIX, p. 341.
  • 71. “La campaña que llevó a la victoria de las Navas recibió uma amplia difusión em los relatos de las crónicas cristianas – más de treinta – y musulmanas (...) El resultado victorioso de la campaña de las Navas le fue comunicado a Inocencio III em uma carta que describía la batalla, los numerosos combatientes que veiníam de transmontanis partibus y la ayuda de los reyes de Aragon y Navarra.” – RODRÍGUEZ LÓPEZ, Ana. La consolidación territorial de la monarquía feudal castellana. Expansión y fronteras durante el reinado de Fernando III. Madrid, Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1994, p. 85-86.
  • 72. "Anónimo de Copenhage". In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.). La España Musulmana, op. cit., p. 354-361.
  • 73. "Anónimo de Copenhage". In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.). La España Musulmana, op. cit., p. 359.
  • 74. "Anónimo de Copenhage". In: SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio (org.). La España Musulmana, op. cit., p. 358.
  • 75. IBN ABI ZAR. Rawd al-quirtas (ed. de A. Huici Miranda), Valencia 1964. Recogido por Cristina Segura.
  • 76. Castelo de la Cuesta, hoje Castro Ferral (ver imagem 7).
  • 77. 16 de julho de 1212.
  • 78. IBN ABI ZAR. Rawd al-quirtas (ed. de A. Huici Miranda), Valencia 1964. Recogido por Cristina Segura.
  • 79. DUBY, Georges. O Domingo de Bouvines. 27 de julho de 1214, op. cit., p. 159.

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