No Fim dos Tempos

O Livro contra o Anticristo (1276) de Ramon Llull (1232-1316)

Ricardo da COSTA
Wilson Coimbra LEMKE

In: ARAÚJO, Alberto Filipe; ALMEIDA, Rogério de; BECCARI, Marcos (orgs.).
O mito do Fim do Mundo: Imaginário & Educação. São Paulo: FEUSP, 2023,
p. 114-158 (ISBN 978-65-87047-50-8. E-book)

Resumo: Análise da tradição apocalíptica medieval sobre a figura do Anticristo, com estudo dos argumentos filosóficos de Ramon Llull para enfrentá-lo. Estruturado em três Distinções, O Livro contra o Anticristo (1276) do filósofo catalão pretende preparar religiosos que levem uma vida santa e combatam racionalmente as falácias do Anticristo.

Abstract: Analysis of the medieval apocalyptic tradition regarding the figure of the Antichrist, with a study of Ramon Llull’s philosophical arguments to face him. Structured in three Distinctions, The Book against the Antichrist (1276), by the Catalan philosopher, aims to prepare religious people to lead a holy life and rationally combat the fallacies of the Antichrist. 

Palavras-chave: Ramon Llull – Llibre contra Anticrist – Apocalipse – Filosofia Medieval – Tradição.

Keywords: Ramon Llull – Llibre contra Anticrist – Apocalypse – Medieval Philosophy – Tradition.

I. O tema na Tradição

Por definição, anticristo é tudo o que se opõe ao Cristo, ao Messias: homem do pecado, filho da perdição, ímpio, dragão (Satanás), príncipe deste mundobesta do abismo e todas as forças do mal a ela unidas, mas também os hereges sedutores, cristãos que se afastaram da fé.1

A ideia de um Anticristo tem suas raízes na Sagrada Escritura, nos Evangelhos e nos escritos apostólicos (epístolas), mas tomou forma e corpo na doutrina dos Padres da Igreja e dos grandes doutores da Idade Média.

Apesar de prefigurado no Antigo Testamento – com as profecias dos fins dos tempos (apocalipse) de Isaías sobre o Leviatã (serpente tortuosa, monstro do mar2), o oráculo de Ezequiel sobre Gog3, a visão de Daniel sobre Antíoco IV Epifânio (175-163 a.C.)4, e na profecia de Zacarias sobre o mau pastor5 – o Anticristo é uma figura própria do Novo Testamento. Neste, predomina a expectativa escatológica de que, no final dos tempos, dever-se-á intensificar o contraste entre o Cristo e seus antagonistas.

No entanto, nos Evangelhos não há menção expressa ao Anticristo: neles prevalecem o sentido espiritual. Por exemplo, o tempo que José passou no Egito representa o interregno da ascensão do Senhor à vinda do Anticristo.6

A parte da Judeia onde reinava Herodes Arquelau (23 a.C.-18 d.C.) representa os sequazes do Anticristo que lutarão contra a fé cristã; e Nazaré da Galileia, para onde José, o Menino e sua mãe, se retiraram, alude ao resto da nação judia que se converterá à pregação de Enoque e Elias.7

A vinda de Elias com o reestabelecimento de todas as coisas significa que aqueles forem perturbados com a perseguição do Anticristo serão reestabelecidos. O princípio das dores de que fala Jesus quando os discípulos Lhe perguntaram quando sucederia a destruição do templo de Jerusalém parece se referir à vinda do Anticristo.8

O fim de Jerusalém também pode ser uma alusão ao fim do mundo porque muitos se escandalizarão e, separando-se da fé cristã, ao verem a multidão, as riquezas dos maus e os milagres do Anticristo, perseguirão seus companheiros9, e o Anticristo enviará falsos profetas, que enganarão a muitos.

Se serão os judeus os primeiros a receberem o Anticristo, eles inicialmente promoverão e só depois sofrerão a grande tribulação do fim dos tempos.10 E como os homens estarão em grande tormento, os falsos profetas, como se dessem a conhecer a obra de Cristo, mentirão para os atormentados e abatidos ao dizer que Cristo estará em vários lugares a fim de conduzi-los à servidão do Anticristo.11

Embora o Evangelho de São Mateus trate do Anticristo e de alguns de seus ministros (falsos cristos e falsos profetas que foram muitos também no tempo dos Apóstolos12), os que surgirão antes da segunda vinda de Cristo e que “farão grandes milagres e prodígios” serão muito mais cruéis que os primeiros.13

O Apóstolo Paulo também tratou dos eventos relacionados à Parusia.14 Os intérpretes inclinaram-se a ver no homem da iniquidade uma personificação das forças do mal, uma imagem do Anticristo.15

Em sua Primeira Carta, São João nos exorta a desconfiar dos anticristos e dos falsos profetas16; em sua Segunda Carta, insiste na necessidade de fugir das falsas doutrinas.17 No Apocalipse de São João, a luta entre Cristo e o Anticristo é o tema central. Aos elementos derivados de Daniel18 são acrescentados outros que parecem aludir a Nero (37-68).19

Do ponto de vista doutrinal, a ideia de um Anticristo começou a se formar e a se corporificar na Patrística (sécs. I-VIII). Policarpo de Esmirna (69-155)20, Irineu de Lyon (c.130-202)21, Tertuliano (c.155-220)22, Hipólito de Roma (c.170-235)23, Orígenes (185-254)24, Lactâncio (c.250-325)25, Atanásio de Alexandria (c.296-373)26, Cirilo de Jerusalém (c.313-386)27, João Crisóstomo (c.347-407)28 e São Jerônimo (c.347-420)29 estabeleceram (e solidamente) a tradição analítica medieval desse topos teológico.30

Dentre os Padres da Igreja, porém, foi Santo Agostinho (354-430) o grande transmissor da tradição apocalíptica do Anticristo à Idade Média. Ele fundamentou essa ideia no contraste teológico-histórico entre a civitas terrena (ou civitas diaboli) e a civitas Dei (ou civitas coelestis):

Christus, nisi prius venerit ad seducendos in anima mortuos adversarius eius Antichristus [...]. Tunc enim solvetur satanas et per illum Antichristum in omni sua virtute mirabiliter quidem, sed mendaciter operabitur.31

***

Cristo não virá para julgar os vivos e os mortos senão depois de o Anticristo, seu adversário, ter vindo para extraviar os que se encontram mortos na alma [...]. Então Satanás será solto e, por intermédio do mencionado Anticristo, agirá com todo o seu poder, maravilhosamente, é certo, mas com mentira (os grifos são nossos).32

Na Idade Média, o tema do Anticristo circunscreveu um adversário da história da salvação: ou um personagem (Satanás), ou uma figura coletiva do Corpus Antichristi (os hereges, por exemplo).

Esses dois modos aparecem nas Etimologias de Santo Isidoro de Sevilha (c. 556-636):

20. Antichristus appellatur, quia contra Christum venturus est. Non, quomodo quidam simplices intellegunt, Antichristum ideo dictum quod ante Christum venturus sit, id est post eum venit Christus. Non sic, sed Antichristus Graece dicitur, quod est Latine contrarius Christo. Αντὶ enim Graece in Latino contra significat.

21. Christum enim se mentietur, dum venerit; et contra eum dimicabitur; et adversabitur sacramentis Christi, ut veritatis eius evangelium solvat.

22. Nam et templum Hierosolymis reparare, et omnes veteris legis caerimonias restaurare temptabit. Sed et ille Antichristus est qui negat esse Deum Christum. Contrarius enim Christo est. Omnes enim, qui exeunt de Ecclesia et ab unitate fidei praeciduntur, et ipsi Antichristi sunt.33

***

20. O Anticristo é assim chamado porque virá contra Cristo. Anticristo não significa – como alguns ingênuos acreditam – que virá antes de Cristo e que Cristo aparecerá depois dele. Não, não é isso. Em grego Anticristo significa o que em latim [significa] contrário a Cristo, já que anti, em grego, equivale a contra, em latim.

21. Quando ele vier, apresentar-se-á como o Cristo; tentará combatê-lo, e se oporá aos Seus sacramentos para aniquilar o Evangelho de Sua verdade.

22. Ele também tentará reparar o templo de Jerusalém e restaurar todas as cerimônias da antiga Lei. Mas quem nega que Cristo é Deus também é um anticristo, pois se mostra contrário a Cristo. Da mesma forma, todos aqueles que se desviam da Igreja e se separam da unidade da fé, também são anticristos (a tradução é nossa).

Em geral, o pressentimento da próxima aparição do Anticristo, ou seja, da iminência do fim do mundo, sempre ressurgiu nas grandes crises do Cristianismo, desde os primeiros séculos, na Idade Média e com as correntes heréticas do Renascimento.34

Por isso, não surpreende que, no início do século XVI, o último grande fresquista toscano, Luca Signorelli (c. 1441-1523), tenha concluído o trabalho iniciado por Fra Angelico (1395-1455) e Benozzo Gozzoli (1420-1497) na Capela de São Brício da Catedral de Orvieto (1290-1521) a respeito do Apocalipse (imagem 1).35

Imagem 1

La predicazione dell’Anticristo (c. 1500-1504), de Luca Signorelli (c. 1441-1523). Afresco, 13,7 x 12 m, Capela de São Brício, Catedral de Orvieto, Úmbria, Itália.36

Nessa que é considerada uma de suas obras-primas, Signorelli registrou o tema da pregação do Anticristo (com o auxílio de mestres em Teologia, naturalmente).37

Satanás sussurra no ouvido do Anticristo as mentiras que deve disseminar (imagem 2) entre os fiéis, espalhando assim sua mensagem de destruição.

Imagem 2

Detalhe de La predicazione dell’Anticristo (c. 1500-1504), de Luca Signorelli (c. 1441-1523). Afresco, 13,7 x 12 m, Capela de São Brício, Catedral de Orvieto, Úmbria, Itália.

O Anticristo de Signorelli tem as feições do Cristo, mas é uma máscara do demônio: seus olhos são turvos; seus cachos lembram chifres!

O Renascimento italiano é, do ponto de vista cultural, o último dos vários renascimentos ocorridos na Europa.38

Nessa longa Idade Média,39 os outros foram o Renascimento Lombardo (ou Liutprandês, séc. VIII40), o Renascimento Carolíngio (sécs. VIII-IX41), o Renascimento Otoniano (sécs. X-XI42) e o Renascimento do séc. XII.43 A tradição fixou, e de modo indelével, o Anticristo, aquele que precederá e preparará o fim do mundo.

No século XVI, Vasari (1511-1574) destacou a importância dos temas apocalípticos na arte de Luca Signorelli:

Fu condotto a Orvieto da gli operai del Duomo di Santa Maria, et interamente finí loro di man sua tutta la cappella di Nostra Donna, già cominciata da fra' Giovanni da Fiesole; nella quale fece tutte le istorie de la fine del mondo: invenzione bellissima, bizzarra e capricciosa, per la varietà di vedere tanti angeli, demoni, terremoti, fuochi, ruine e gran parte de' miracoli di Anticristo; dove mostrò la invenzione e la pratica grande ch'egli aveva ne gli ignudi, con molti scorti e belle forme di figure, imaginandosi stranamente il terror di que' giorni.44

***

Foi levado a Orvieto pelos construtores da Catedral de Santa Maria e terminou inteiramente a capela de Nossa Senhora, já iniciada por frei Giovanni da Fiesole; nela fez todas as cenas do fim do mundo: concepção belíssima, estranha e caprichosa, pela variedade e quantidade de anjos, demônios, terremotos, fogo, ruínas e parte dos prodígios do Anticristo; mostrou a inventividade e a prática que tinha com os nus, fazendo muitos escorços e figuras com belas formas, imaginando estranhamente o terror daqueles dias (os grifos são nossos).45

No registro desse tema na história das imagens46, seu ápice se deu com o pintor Luca Signorelli; no do imaginário medieval, séculos antes, sua ampla difusão teológica-literária ocorreu com a obra De ortu et tempore Antichristi (A ascensão e o tempo do Anticristo), do abade cluniacense Adso de Montier-en-Der (c. 910-992).

Provavelmente, por ter sido escrita como uma biografia (espécie de espelho invertido do Cristo!), o texto de Adso se tornou modelo para as hagiografias posteriores47 e para as alusões ao Anticristo, como a história da salvação contida no Hortus Deliciarum (1167-1185) da abadessa Herrada de Landsberg (1125-1195) (imagem 3).48

Imagem 3

Detalhe de ENGELHARDT, Christian Maurice (1775-1858). Herrada de Landsberg (1125-1195). Hortus deliciarum (1167-1185). Stuttgart und Tübingen, 1818, BnF Gallicafolio 5. Da esquerda para a direita: 1) trecho da Parábola do Bom Samaritano (segunda cena: no caminho, o homem caiu nas mãos de bandidos que, tendo-o despido e coberto de feridas, foram embora deixando-o meio morto; 2)Anticristo (representado como um rei): acima da cena, pode-se ler que os que resistirem a ele, serão jogados no forno.49

Inclusive para a hagiografia mais famosa de todas, a Legenda Áurea (c. 1253-1270).50 Redigida já na época de Ramon Llull (1232-1316), ela expressou, de modo muito claro e admoestativo, os fatos que precederão o Segundo Advento (a chamada Parúsia, παρουσία51), isto é, a segunda vinda do Cristo no Dia do Juízo Final.52

Um deles, o Anticristo:

Secundum quod praecedit judicium, erit antichristi fallacia. Ipse enim omnes decipere conabilur quatuor modis. Primo per callidam suasionem sive scripturae falsae expositionem [...]. Secundo per miraculorum operationem [...]. Tertio per donorum largitionem [...]. Quarto per tormentorum illationem.53

***

O segundo fato que precederá o Juízo serão as falácias do Anticristo. Ele se esforçará para enganar os homens de quatro modos. Primeiro, pela astúcia, que empregará para interpretar erroneamente as Escrituras [...]. Segundo, por suas obras milagrosas [...]. Terceiro, pela abundância de seus dotes [...]. Quarto, pelos tormentos que infligirá (os grifos são nossos).54

Portanto, Ramon Llull viveu (e absorveu) a herança teológico-apocalíptico-filosófica dessa concepção de Anticristo, ainda que a tivesse interpretado – como tudo – à sua maneira, bem peculiar, como veremos a seguir.

II. O Anticristo, mensageiro do demônio

Imagem 4

O Anticristo sentado no Leviatã (séc. XIII). Lambert de Sant Omer (c. 1061-?). Liber Floridus (O Livro das Flores, c. 1090-1120). BNF, Manuscrits, Latin 8865, folio 62v. Nessa iluminura de uma enciclopédia medieval – seu manuscrito, preservado, ainda que incompleto, se encontra na Biblioteca da Universidade de Ghent) – o Anticristo, coroado, com um cetro (cuja ponta, vermelha, aponta para um texto acima, citação da obra do abade Adso de Montier-en-Der [c. 910-992]), está entronado sobre a cauda do Leviatã, um dos grandes monstros marinhos do imaginário Ocidental, o mais terrível de todos, porque simboliza as forças do Mal, aquele que só a espada de Deus conseguirá matar.

Desde muito cedo o filósofo Ramon Llull se preocupou com o Anticristo. Ainda em Maiorca, tratou do enviado do demônio em um capítulo da obra que dedicou a seu filho, a Doctrina pueril (1274-1276), tratado de instrução aos laicos com zelo pastoral e dirigido a pessoas com menor instrução.55

Todos deveriam estar atentos contra esse falso pregador:

Antecrist será home carnal tramés en est mon en semblansa de Christ per lo demoni infernal; cor, enaxí con lo celestial pare tramés son fil, nostre senyor Deus Jesuchrist, en lo mon per restaurar lo poble qui era perdut, enaxí lo demoni, qui es ple de malicia, ferá tot son poder e tramerá missatge Antechrist per destruir lo poble que a Christ a reparat.56

***

O Anticristo será um homem carnal enviado a este mundo, à semelhança de Cristo, pelo demônio infernal; pois assim como o Pai Celestial enviou Seu filho, Nosso Senhor Deus Jesus Cristo, ao mundo para restaurar o povo que estava perdido, assim o demônio, que é cheio de malícia, usará todo o seu poder e enviará a mensagem do Anticristo para destruir o povo que Cristo reparou.57

Nesse aspecto, Ramon Llull se mantém fiel ao sentir unânime dos Padres da Igreja, sobretudo quando afirma que Cristo se encarnou para libertar o homem do poder do demônio.58

III. O Livro contra o Anticristo (1274-1276)

Imagem 5

Espíritos impuros saem das bocas do dragão, da besta e do falso profeta. Apocalipse Getty (c. 1255-1260). Iluminura, têmpera colorida, folha de ouro, 31,9 x 22,5 cm (página inteira). The J. Paul Getty Museum, Ms. Ludwig III 1 (83.MC.72), folio 34v. No Apocalipse, São João Evangelista descreveu como sete anjos enviaram sete pragas à Terra em taças identificadas como a Ira de Deus. Esta iluminura mostra a entrega da sexta taça (Ap 16, 13). A representação das bestas é baseada em detalhes do texto. O iluminista representa o falso profeta: um símio com nariz adunco, orelhas azuis de carneiro, cascos fendidos (também azuis) e pontas vermelhas nos cotovelos. Sapos de pernas tortas voam das bocas das três bestas que confrontam São João (à esquerda). Este ergue defensivamente o braço esquerdo enquanto sua mão direita repuxa a testa, abrindo mais os olhos para testemunhar os terrores do Juízo Final, gesto que chama a atenção para o papel da visão em sua experiência visionária.59

Ainda em Maiorca, após a redação da Doctrina pueril, Llull escreveu O Livro contra o Anticristo (1274-1276).60 Esta obra difere dos tratados anteriores por ser mais um manual pedagógico de como enfrentar o protagonista do mal do que uma demonstração doutrinal deste problema factício. Ainda assim, não faltam a proclamação dos princípios necessários e sua argumentação, tampouco o elenco dos males a serem enfrentados.61
 
O Anticristo de Llull tem pouco em comum com a apocalíptica figura com a qual se ocuparam os pensadores medievais, pois é uma imagem que serve de pretexto para denunciar os perigos que ameaçavam a fé católica.62
 
Por isso, O Livro contra o Anticristo já foi interpretado como uma obra escrita contra Maomé (570-632)63, embora o tom geral do texto seja pacifista em relação ao mundo islâmico. Curiosamente, essa sua posição é distinta do acordado no II Concílio de Lyon (1274), assembleia convocada pelo Papa Gregório X (1271-1276), quando a Igreja confiou ao rei Jaime I de Aragão (1208-1276) a liderança de uma cruzada.64
 
Seu objetivo ao tratar do tema é claramente exposto em seu Prólogo: como o mundo foi criado para que conhecêssemos e amássemos Nosso Senhor (e se desviar dessa finalidade é um grande erro!), Llull apresenta a “arte e a doutrina” de como destruir os perigosos erros semeados pelo Anticristo vindouro.
 
Pretende que a leitura de seu livro prepare homens santos, sábios e devotos que levem uma vida santa e combatam as falsas opiniões do Anticristo com argumentos (razões necessárias).65
 
Para isso, estruturou seu livro em três distinções1) os Princípios2) as Obras do Anticristo, e 3) Sobre a Vida Santa e a Doutrina.
 
O objetivo da Primeira Distinção de O Livro contra o Anticristo é “[...] destruir a segunda, conforme o método da Arte breve de encontrar a verdade” (c. 1274).66 Esta é a primeira versão de sua Arte, obra apologética para converter os muçulmanos (por isso, sem qualquer referência à Bíblia). Sua pretensão era que fosse universalmente compreensível e aceitável, pois se baseia em formas geométricas com letras que representam conceitos teológicos e filosóficos que explicam a relação entre Deus e suas criaturas.67
 
A Arte breve de encontrar a verdade estabeleceu o que viria a ser a estrutura de sua Arte: além da explicação das figuras, há a listagem dos resultados combinatórios extraídos delas e sua aplicação em várias questões relacionadas a toda a esfera da realidade68 – realidade essa, naturalmente, de base platônica, porque considera as coisas eternas, não as perecíveis.69
 
Sua argumentação filosófica parte de um axioma teológico: Deus (letra A) – o Alfa e o Ômega de tudo o que existe70 – e Seus atributos. São eles: B (Bondade), C (Magnitude), D (Eternidade), E (Poder), F (Sabedoria), G (Vontade), H (Virtude), I (Verdade), K (Glória), L (Perfeição), M (Justiça), N (Larguesa), O (Misericórdia), P (Humildade), Q (Domínio) e R (Paciência).71
 

Imagem 6

As famosas figuras combinatórias da Arte luliana. Aqui, dois folios do Codex Cusanus 83: Raymundi Lulli Opera, 1428. St. Nikolaus Hospital-Cusanusstif Bibliothek, Bernkas.72

Esses atributos são absolutamente idênticos e da mesma essência.73 Por isso, cada um é relacionado aos demais74, já que Ele pode ser compreendido de múltiplas maneiras.
 
O resultado chega a 20.922.789.888.000 (vinte trilhões, novecentas e vinte e duas bilhões, setecentas e oitenta e nove milhões e oitocentas e oitenta e oito mil) combinações possíveis!75

III.1. Os Princípios

Os Princípios da Primeira Distinção são divididos em quatro partes: 1) Unidade, 2) Trindade, 3) Encarnação e 4) Virtudes.
 
Todas as dignidades de Deus são uma mesma essência, uma mesma unidade, um mesmo Deus. Sem qualquer distinção. Além disso, Deus é eterno ato puro.76 Por isso, sua Bondade age (bonifica, nos termos lulianos), sua Magnitude magnifica, sua Eternidade eternifica, e assim por diante.77
 
Esse eterno ato puro de Deus é o responsável pela Trindade:
En Deu es enteniment e es volentat, e enteniment e entendre en Deu no ha diversitat, e açó mateix se seguex de volentat e voler. E cor en Deu entendre e voler se convenen concordar ab majoritat, cové que la volentat vulla que·l enteniment entena la pus perfeta obre e la mellor e la major que puscha esser entesa per poder de infinit entendre en bonesa, granesa, etc.78
 
Em Deus há entendimento e há vontade, e o entendimento e o entender em Deus não têm diversidade. O mesmo ocorre com a vontade e o querer. E como em Deus o entender e o querer convém concordarem com a maioridade, convém que a vontade queira que o entendimento entenda a mais perfeita obra e a melhor e a maior que possa ser compreendida pelo poder do infinito entender em bondade, grandeza, etc.79
Quanto ao fato de Deus ter encarnado, o filósofo pretende prová-lo racionalmente, com suas razões necessárias – no caso, como as dignidades divinas se convertem na infinita grandeza divina, exemplificando os atos de cada dignidade na grandeza de Deus.80
 
Isso porque Llull crê que o Anticristo se esforçará em destruir a santa fé católica difamando a Encarnação do Filho de Deus.81 Assim, a Grandeza é relacionada com todas as dignidades.
 
Por exemplo, veja como Llull relaciona a Grandeza de Deus com Sua Paciência:
[A]ctu de passiencia es passienciegar, e cor passiencia e majoritat se convenen contra impassiencia e son actu, qui es maliciejar, per açó passiencia divina, qui en si matexa no ha malicia, vol esser gran en passienciegar per encarnació, sens la qual encarnació sa granesa no pogra haver tan gran actu com li cové en justicia, perfecció; la qual justicia e perfecció foren contraris a la granesa de llurs actus, si en la volentat de Deu no concordaven voler ab granea de passiencia [...].82
O ato de paciência é pacientizar, e como a paciência e a maioridade convêm contra a impaciência e seu ato, que é maliciar, a paciência divina, que em Si mesma não tem malícia, quer ser grande no pacientizar pela Encarnação, sem a qual Encarnação Sua grandeza não poderia ter sido tão grande ato como lhe convém em justiça e em perfeição, a qual justiça e perfeição seriam contrárias à grandeza de seus atos, se na vontade de Deus não concordassem a vontade com a grandeza da paciência [...].
As virtudes celestiais (também chamadas de virtudes cristãs) – as teologais (fé, esperança e caridade) e as cardeais (justiça, prudência, fortaleza e temperança83) – são relacionadas com a grandeza, para assim “[...] confundir e destruir o Anticristo, suas falsas razões e opiniões que dirá contra Nosso Senhor Jesus Cristo”.84

III.2. As obras do Anticristo

Na Segunda Distinção, Llull enumera as cinco principais perversas obras do Anticristo com as quais ele irá colocar o erro no mundo: 1) falsas razões, 2) milagres, 3) dons, 4) promessas e 5) tormentos.
 
Por obra do espírito maligno, com suas falsas razões, cavilações e sofismas, o Anticristo tentará provar que é Deus, assim como o entendimento falso e fantasioso (fantastich85) dos sarracenos quando dizem que, por causa da perfeição do poder de Deus, o homem não pode pecar sem o Seu consentimento – pois, ao raciocinarem dessa forma, não consideram a concordância dos atos da justiça e da perfeição com os atos do poder e da vontade divina.86
 
Por causa da malícia que todos os dias cresce nas pessoas
[...] será donat poder per Antichrist en fer miracles e endureyr los homens harrats, mals, obstinats e peccadors, e que los homens justs n’ajen major merit per prudencia e per fe en fortitudo, entenents que aquells miracles sob contraris a justicia, veritat, bonesa, perfecció e a les altres divines dignitats ab les quals los miracles que feu nostre senyor Jesucrist son concordants [...].87
[...] será dado poder para o Anticristo fazer milagres e endurecer os homens errados, maus, obstinados e pecadores, e que [assim] os homens justos tenham maior mérito pela prudência e pela fé em fortaleza e entendam que aqueles milagres são contrários à justiça, à verdade, à bondade, à perfeição, e às outras divinas dignidades com as quais os milagres que fez Nosso Senhor Jesus Cristo são concordantes [...].
Os falsos milagres do Anticristo poderão ser confrontados se houver consciência dos dois maiores e verdadeiros milagres de Deus sobre os corpos da Natureza. São eles, na ordem:
 
1)transubstanciação (para Llull, o maior milagre que Deus pode ter pelos atos de Suas dignidades sobre os corpos da Natureza88), e 
 
2) a criação de algo ex nihilo, a partir de nada (por exemplo, o mundo, as almas, os homens e as mulheres, etc.89).
 
Quanto ao fato de a transubstanciação ser considerada pelo filósofo o maior de todos os milagres de Deus, trata-se de um tema muito revisitado na Idade Média.90
 
Llull ainda afirma que também é preciso saber que a arte da necromancia, apesar de existir (ser real), não é um milagre, mas fonte causadora de ilusões, assim como as transmutações feitas pelos demônios.91
 
A liberdade estará sujeita aos desejos materiais pelos presentes do Anticristo, diz o filósofo. Pecados e vícios serão exaltados! Para seduzir o mundo, ele dará terras, cavalos, vestidos, cidades e castelos, mas não dará fé, nem esperança, tampouco caridade.92
 
Sobre essas promessas diabólicas, diz Llull:
[P]rometrá Antichrist als homens qui·l creuran e·l adoraran com a Deu moltes coses en est mon e en l’altre; cor als homens qui amaran ben[an]ançes temporals prometrá sanitat e longua vida i fills, satisfacción dels treballs que hauran sostenguts e moltes coses semblants a aquestes prometrá.93
Prometerá o Anticristo aos homens que nele crerão e o adorarão como Deus muitas coisas neste mundo e no outro, pois aos homens que amarem as benanças temporais prometerá saúde, vida longa e filhos, satisfação dos trabalhos que terão suportado e muitas coisas semelhantes a essas prometerá.
Jesus Cristo quis, pacientemente, sofrer prostrações muito graves e uma morte angustiante.94 Como o Anticristo é seu exato oposto, espelho invertido, matará impacientemente os homens que se opuserem e não acreditarem nele.95 E ameaçará tão terrivelmente a todos que tirará deles a caridade e multiplicará o temor sobre a caridade e a justiça.96
 

Imagem 7

O Anticristo assassina duas testemunhas (Ap 11, 7: A morte das testemunhas). Apocalipse em latim e anglo-normando francês (início do séc. XIV), Royal MS 2 D XIII, folio 23v.

III.3. Sobre a Vida Santa e a Doutrina

Serão os santos homens cristãos os principiadores da destruição dos erros do Anticristo. Llull divide binariamente essa Terceira Distinção de modo absolutamente clássico: a vida ativa e a vida contemplativa, eterna dualidade existencial filosófica.97
 
Há uma típica (e muito medieval) exigência intelectual luliana para a escolha desses homens de oração para a vida contemplativa:
[...] cové que aquells homens qui seran asignats a oració sien homens de gran saber e[n] les coses celestials e terrenals, per tal que l’actu de lur enteniment e de llur volentat se pusquen molt convenir a reebre influencia e gracia de Deu, com lo pusquen molt altament contemplar en si matex e en ses obres per exalçar, entendre e voler.98
 
[...] convém que aqueles homens que serão designados para a oração sejam homens de grande saber nas coisas celestiais e terrenas, para que o ato de seu entendimento e de sua vontade seja muito conveniente para receber a influência e a graça de Deus, de maneira que o possam mui altamente contemplar em si mesmo e em suas obras exaltar, entender e querer.
A aplicação do imperativo do intelecto nas coisas religiosas que o filósofo relaciona perpassou a tradição medieval. A noção de compreensão pela fé passou a estar presente no horizonte especulativo desde Anselmo de Canterbury (c. 1033-1109): Fides quaerens intellectus.99
 
A relação entre oração e vida santa com intelectuais era um traço característico do pensamento medieval.100 Por exemplo, nos passos da lectio divina monástica, Guigo II Cartuxo, o Angélico (†1188) afirmou que, no exercício espiritual do homem, há quatro degraus espirituais: 1) a leitura, 2) a meditação, 3) a oração e 4) a contemplação.101
 
Contemplar a Deus, desejar a glória celeste e menosprezar as vaidades mundanas. Na verdade, odiá-las, afirma Llull. E como adorar a Deus? Por meio de aflições, tristes desejos para assim afligir as potências da alma para que se tornem tristes no coração. Que lágrimas corram dos olhos! Só assim é possível considerar os enormes tormentos e a pesada e angustiante morte que o Filho de Deus suportou na carne e na cruz por nós, pecadores.102
 
Além disso, esses sábios homens devotos devem considerar a santa vida dos apóstolos, dos mártires e das mártires que morreram por pregarem louvores do Filho de Deus. Para melhor se prepararem para a chegada do Anticristo, estes santos homens devem
Considerar en les penes infernals com son grans e durables e tembre aquelles, membrant ho[m] sos peccats e ses colpes e entenent e amant hom la gran justicia de Deu, es considerar qui dona a home afflicció per temor, la qual afflicció e temor crex segons que hom multiplica se consideració en les penes infernals e en los peccats que ha fets contra la justicia divina, amant home ab gran voler l’actu de la justicia [...].103
Considerar quão grandes e duráveis são as penas infernais, e temê-las ao lembrarem seus pecados e suas culpas, pois assim entenderão e amarão a grande justiça de Deus. É essa consideração que dá ao homem a aflição pelo temor, e tal aflição e temor crescem conforme multiplica sua consideração nas penas infernais e nos pecados que cometeu contra a justiça divina, amando com grande vontade o ato da justiça [...].104
Além da vida contemplativa, a vida ativa (segunda parte da Terceira Distinção). Primeiramente, a pregação, sua essência. Para tal, Llull propõe que sejam organizados centros de estudos de línguas, de Filosofia e de Teologia. Especifica que sejam localizados em lugares afastados dos centros urbanos (agrests), deleitáveis, e que as pessoas lá formadas, sábias, saiam para pregar aos infiéis por meio de razões necessárias. Tudo isso deve ocorrer antes da chegada do Anticristo,
[...] cor si Antichrist los atroba en error e contra la sancta Sgleya romana, será molt gran perill de la fe catholica, la qual será fortificada en lo convertiment dels arrats a via salutable.
 
Aquells preicadors cové esser tan devots a martire que no dupten mort ni turments a sostenir per nostre senyor Deus, e cové que vajen als infaels e que disputen ab ells sobre·ls articles, siguent la manera de la Art abreujada de trobar veritat, la qual als infaels sia mostrada e sia a ells mostrada comuna philosofia e theologia sots breus començaments necessaris, per tal que per l’effectu en philosofia sia demostrada veritat dels articles en theologia de la primera causa.105
 
[...] pois, se o Anticristo os encontrar [os infiéis] no erro e contra a santa Igreja Romana, haverá um perigo muito grande para a fé católica, a qual seria fortalecida pela conversão dos errôneos ao caminho da salvação.106
 
Convém que aqueles pregadores sejam tão devotados ao martírio que não duvidem da morte nem de suportar tormentos por Nosso Senhor Deus, e convém que vão aos infiéis e que disputem com eles sobre os artigos [de fé], seguindo a maneira da Arte abreviada de encontrar a verdade, a qual seja mostrada aos infiéis e seja a eles mostrada a Filosofia e a Teologia comuns sob breves princípios necessários, de modo que, por efeito da Filosofia, seja demonstrada a verdade dos artigos em Teologia da primeira causa.
O método proposto pelo filósofo e acima exposto é claro, ainda que inexequível. Formar mártires? Não se tem conhecimento que Llull tenha obtido sucesso com essa proposta (tampouco que haja convertido alguém com sua Arte).
 
Seja como for, essa proposta de planejamento de combate ao Anticristo (e de conversão dos muçulmanos), a do martírio, foi um dos temas mais perenes da filosofia luliana.107 É dessa época a autorização dada a Llull pelo rei Jaime II de Maiorca (1243-1311) para a fundação de um mosteiro em Maiorca com esses objetivos: o Colégio de Miramar.108
 
Nessa concepção da vida ativa (que hoje chamaríamos de filosofia política), era crucial o protagonismo teológico (para os cristãos) e diplomático (para os infiéis) do Papa. Para a Christianitas, o Santo Padre deveria sempre recordar aos fiéis a Unidade, a Trindade e a Encarnação de Cristo109; aos infiéis, requerer a seus reis que enviassem “sábios de suas seitas” para que aprendessem latim e estudassem os “livros que revelam e demonstram a fé cristã”. Eles deveriam ser bem tratados: só assim retornariam para as suas terras agradecidos e ensinariam o que aprenderam.110
 
Dentre os judeus e sarracenos, que são escravos no mundo cristão, também deveriam ser escolhidos homens para aprenderem a fé cristã. É rígida a solução apresentada pelo filósofo: os que não quisessem aprender deveriam ser punidos! Quanto aos cristãos que viviam nas terras islâmicas e que tinham divergências com os latinos, Llull esperava que aqueles sábios que aprenderam a fé cristã, ao voltarem ao mundo muçulmano, ensinassem e corrigissem os cristãos que se desviaram da fé católica. Todo este planejamento de ação da vida ativa convinha à pregação e seria muito útil para assentar as bases de enfrentamento ao Anticristo.111
 
No final da segunda parte (vida ativa) da Terceira Distinção, o filósofo aborda a violência. E inicia, de modo muito contundente, uma defesa do pacifismo:
[E]n diversitat de sextes e de crehenses son engenrrades guerres e batalles e·s  repremuda la santa Sgleya en fe, caritat, sperança; cor la manera per la qual ach començament e exelçament e perfecció la Sgleya romana s’es quax girada en guerres e en batalles e es quaix oblidada la primera manera, so es de prehicament e de convertiment e endressament com los infaels sien endressats a via perdurable, en la qual benahuyrança no ha fi.112
 
Pela diversidade de seitas e de crenças são geradas guerras e batalhas, e são reprimidas a fé, a caridade e a esperança da santa Igreja; pois a maneira pela qual houve o princípio, a exaltação e a perfeição da Igreja romana foi quando quase que inteiramente ela se voltou para as guerras e para as batalhas e quase se esqueceu da primeira maneira, isto é, a da pregação, a da conversão e a do encaminhamento de como os infiéis podem ser conduzidos ao caminho da salvação, no qual a bem-aventurança não tem fim.
Llull afirma que a guerra foi muito útil aos judeus contra os infiéis antes da vinda do Cristo, já que, após Seu amor pela Humanidade (a Paixão), Sua obra foi demonstrada na santa vida dos apóstolos e dos mártires, que converteram o mundo com as verdadeiras batalhas: a paciência, a caridade, a humildade, a devoção, a esperança, a fortaleza, os tormentos e a morte. Foi o sangue dos mártires que fundamentou os mais sólidos alicerces da Igreja!113 Só com a graça do martírio a fé católica poderia ser conhecida, espelhada, crescida e mantida.114
 
O fracasso das cruzadas dos reis, príncipes e grandes barões contra os muçulmanos era uma prova de que havia esse modo, melhor e mais elevado, de converter o mundo e de conquistar a Terra Santa. Só assim poder-se-ia destruir a imperfeição que o Anticristo espalhará pelo mundo!

Conclusão

Imagem 8

Detalhe da rodela inferior na coluna da direita do folio, com o Diabo (à esquerda), possivelmente o Anticristo como Janus (só que não bifronte, como de hábito, mas com três faces), e dois homens com livros abertos, um dos quais dentro de um tonel. Bíblia Moralisada (séc. XIII), iluminura, Harley 1527, British Library, folio 127.

Assim Llull encerra sua obra:

Fenit es lo libre es apellat Libre contra Antichrist, e qui es hordenat sots breus començaments e paraules a donar doctrina con hom puscha contrastar a Antichrist e com aja audacia e art a destruyr ses falçes opinions per tal que·l dampnatge que dará no sia durable, e que la sancta fe catholica ne sia mils illuminada e ordonada per sos faels amadors e ordonadós en demostrar e fortificar e examplar-la a gloria e honor, reverencia, conexença e amor de nostre senyor Deus, a la conexença del qual amar e servir es fet lo Libre de oració de enteniment, qui entenent e contempla e adora Deu.

Finito libro sit laus gloria Christo. Amen. Finis.

***

Findo está o livro chamado O Livro contra o Anticristo, que foi ordenado sob breves princípios e palavras para dar doutrina de como se pode contrastar o Anticristo, como ter audácia e arte para destruir suas falsas opiniões para que o dano que fará não seja durável, e para que a santa fé católica seja melhor iluminada e ordenada por seus fiéis amantes e ordenada para demonstrá-la, fortificá-la e exemplificá-la para a glória, honra, reverência, conhecimento e amor por Nosso Senhor Deus, conhecimento esse de como amá-Lo e servi-Lo já foi posto no Livro de oração e de entendimento115 que, ao ser entendido, pode-se contemplar e adorar a Deus.

Findo o livro, louvada seja a glória de Cristo. Amém. Fim.

Príncipe deste mundo, agente de Satã, a figura do Anticristo povoou o imaginário medieval, especialmente a partir dos séculos XI-XII, período que já foi definido como o da primeira grande explosão diabólica.116

Ramon Llull não ficou imune a essas preocupações apocalípticas. Sinceramente angustiado com os rumos do mundo, com a expansão do Islamismo e a proximidade do Apocalipse, escreveu uma obra, O Livro contra o Anticristo, e apresentou propostas para impedir a disseminação dos males provocada pela vinda do Anticristo.

E basicamente em duas vertentes:

1) a pregação, com base nas dignidades de Deus e na ênfase apologética dos milagres da transubstanciação e da criação do universo a partir do nada, e

2) a formação (teológica e filosófica) de sábios homens católicos, estudiosos dispostos ao martírio em terras islâmicas por anunciarem a mensagem do Cristo117 – modo muito mais eficaz do que a guerra.

De fato, além de estarem fincadas em sólida tradição apostólica, suas propostas reverberaram o maior anseio de seu tempo: o retorno ao cristianismo dos apóstolos.118

Assim, O Livro contra o Anticristo é uma obra que registra o pensamento do filósofo maiorquino aplicado a uma questão específica – o Apocalipse e seu maior anunciador, o filho da perdição. E também a progressiva caminhada da Filosofia rumo ao racionalismo dos séculos vindouros.

Mais do que isso: a vontade dos cristãos de estabelecer um diálogo de conversão com outras religiões (em especial o Islamismo) e sua confiança de que, no final dos tempos, a palavra do Cristo prevalecerá e, após o tempo de chorar, o da mortalidade, virá o de sorrir, o da Eternidade.

***

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Notas

  • 1. “Anticristo”. In: BÍBLIA SAGRADA. Nova Edição Papal (traduzida das línguas originais com uso crítico de todas as fontes antigas pelos Missionários Capuchinhos de Lisboa). Charlotte: Stampley Enterprises, 1974, p. 1.252 (Índice bíblico-pastoral).
             Sobre o tema, cf. “Anti-cristo”. In: LOURENÇO, Pe. José. Dicionário da Doutrina Católica. Pôrto: Tip. Empresa Guedes, 1945, p. 22.
  • 2. Is 24-27.
  • 3. Ez 38-39. “Neste cap. [38] fala-se duma nova tentativa de assalto violento do Reino de Deus no fim dos tempos. Contudo, Deus, como senhor absoluto, permanece como verdadeiro vencedor sobre todos os poderes adversos. Há neste poema muitos traços apocalípticos [...]. Não se sabe quem era Gog. Deram-se várias interpretações, mas parece tratar-se do nome apocalíptico do príncipe do fim dos tempos. É o tipo do conquistador bárbaro que há-de trazer a Israel as últimas provações num futuro longínquo e indeterminado [...]. Na Escatologia posterior e na Apocalíptica aparece frequentemente a figura de Gog (cf Ap 16, 14; 17, 12-14; 19, 17-19; 20, 7-10), como símbolo da luta final entre os povos pagãos e o povo eleito. No Ap 20, 8 aparece também o nome dum povo chamado Magog, mas são se sabe onde ficava esse país.” – BÍBLIA SAGRADA. Nova Edição Papal, op. cit., p. 875 (nota de Ezequiel 38, 1-2).
  • 4. Dn 7-12. A abominação de que trata o profeta Daniel refere-se, segundo Santo Hilário de Poitiers (c. 310-367), aos tempos do Anticristo. Cf. SANCTI THOMAE DE AQUINO. Catena aurea in quatuor Evangelia: Expositio in Matthaeum. Textum Taurini, 1953 (editum et automato translatum a Roberto Busa SJ), cap. 24, lição 5.
  • 5. Zac 9-14.
  • 6. Mt 2, 13-15.
  • 7. Mt 2, 21-23.
  • 8. Mt 24, 8.
  • 9. Mt 24, 14.
  • 10. Mt 24, 21.
  • 11. Mt 24, 23.
  • 12. Mt 24, 23-28.
  • 13. SANCTI THOMAE DE AQUINO. Catena aurea in quatuor Evangelia: Expositio in Matthaeum. Textum Taurini, 1953 (editum et automato translatum a Roberto Busa SJ). Ver também a edição brasileira SANTO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea - Exposição contínua sobre os Evangelhos: Evangelho de São Mateus (trad.: Fabio Florence, Felipe Denardi, Leonardo Serafini Penitente, Ricardo Harada, Roberto Mallet, Ronald Robson). Campinas: Ecclesiae, 2018, v. 1, p. 733-734.
  • 14. 1 Tes 4, 13; 5, 1-11.
  • 15. 2 Tes 2, 3-4.
  • 16. 1 Jo 2, 18; 4, 3.
  • 17. 2 Jo 1, 7.
  • 18. Em Ap 12 (3-4) há um grande dragão vermelho com sete cabeças, dez chifres e, sobre as cabeças, sete diademas, que, com a sua cauda, fez varrer a terça parte da estrelas e lançou-as sobre a terra. Em Dan 8 (9-10) também há um chifre de um bode simbólico que deitou por terra estrelas que simbolizam os chefes do judaísmo que se deixaram subjugar por Antíoco IV Epífanes. No Apocalipse, elas podem aludir aos cristãos que sucumbiram à perseguição. Ver Bíblia Sagrada. Nova Edição Papal, op. cit., p. 1239 (nota de Ap 12, 4).
  • 19. Cf. Ap. 13, 18.
  • 20. Epístola de Policarpo aos Filipenses, § 7. Ver HARRISON, Percy N. Polycarp’s two epistles to the Philippians. University Press, Cambridge 1936.
  • 21. Contra Heresias, Livro V. IRENAEUS, Saint, Bishop of Lyon. Libros Quinque Adversus Haereses [Greek And Latin]. Cantabrigiae: Typis academicis, 1857.
  • 22. QUINTUS SEPTIMIUS FLORENS TERTULLIANUS. De resurrectione carnis liber, XXIV. In: IntraText Digital Library.
  • 23. HIPPOLYTUS OF ROME. On Christ and Antichrist. Blurb, 2021; DUNBAR, David G. “The Delay of the Parousia in Hippolytus”. In: Vigiliae Christianae 37, 1983, n. 4, p. 313-327.
  • 24. Contra Celso, Livro VI, cap. XLV. ORIGEN. Against Celsus (trans.: Henry Chadwick). London: Cambridge University Press, 1953.
  • 25. LUCIUS CAECILIUS FIRMIANUS LACTANTIUS. The divine institutes VII, XIX. InIntraText Digital Library.
  • 26. ANATOLIOS, Khaled. Athanasius. London: Routledge, 2004, p. 87-175 (extratos dos Discursos contra Arianos).
  • 27. 15º Sermão catequético. DRIJVERS, Jan Willem. Cyril of Jerusalem: Bishop and city. Supplements to Vigiliae Christianae, vol. 72. Leiden: Brill, 2004.
  • 28. JOHN CHRYSOSTOM. Commentary on Saint John the Apostle and Evangelist: Homilies 1-47 (transl.: Thomas Aquinas Goggin SCH).  Catholic University of America Press, 2000.
  • 29. JEROME’S Commentary on Daniel (trans.: Gleason L. Archer). Michigan: Baker Book House, 1958; BRAVERMAN, Jay. Jerome’s Commentary on Daniel: A Study of Comparative Jewish and Christian Interpretations of the Hebrew Bible. Washington D.C., 1978.
  • 30. Para o tema, ver HUGHES, Kevin L. Constructing Antichrist: Paul, Biblical Commentary, and the Development of Doctrine in the Early Middle Ages. Washington: Catholic University of America Press, 2005.
                Para uma perspectiva católica (para melhor compreensão da perspectiva medieval – já que só havia o catolicismo), LÉMANN, Monsenhor Augustin. O Anticristo. Campo Grande: Gráfica Mundial, 2018.
  • 31. AUGUSTINUS HIPPONENSIS. De Civitate Dei contra Paganos libri XXII. In: S. AURELII AUGUSTINI. Opera Omnia. Editio latina. Patrologia Latina 41.
  • 32. SANTO AGOSTINHO. A Cidade de Deus (trad., prefácio e nota biográfica e transcrições de J. Dias Pereira). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2011, vol. III, p. 2057-2058 (Livro XX, cap. XIX).
  • 33. SAN ISIDORO DE SEVILLA. Etimologias I (texto latino, version española y notas por Jose Oroz Reta y Manuel-A. Marcos Casquero). Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 2000, p. 722-723 (VIII, 11, 20-22).
  • 34. Anticristo”. InEnciclopedia Treccani.
  • 35. “Na Ressurreição dos Mortos e no Juízo Final, estalam ‘numa força trágica cujo impulso nada pode desviar... um furor de pensamento que não recua, para se manifestar, perante nenhum assunto, por repugnante que seja, uma violência que simboliza o individualismo italiano dos piores momentos. E, para exprimir tudo isto, um desenho de anatomista, duro e tenso, fremente na sua feroz estabilidade’ (Ê. Faure). Pela sua fogosidade, e sua terribilità, Signorelli seria, Miguel Ângelo à parte, o último grande fresquista toscano do século XV.” – DELUMEAU, Jean. A Civilização do Renascimento. Volume II. Lisboa: Editorial Estampa, 1984, p. 327.
  • 36. Para um estudo das imagens medievais do Anticristo – a partir da tradição manuscrita do Beato de Liébana – ver WRIGHT, Rosemary Muir. Art and Antichrist in Medieval Europe. Manchester University Press, 1995.
  • 37. “Suas melhores obras, porém, são as que concebeu para a Catedral de Orvieto, onde pintou uma magnífica série de seis afrescos ilustrando o fim do mundo e o Juízo Final.” – CHILVERS, Ian (ed.). Dicionário Oxford de Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 492.
                Ver especialmente RIESS, Jonathan B. Luca Signorelli The San Brizio Chapel Orvieto. New York: George Braziller Pub, 2000.
  • 38. Para o tema, ver BURKE, Peter. O Renascimento italiano – Cultura e Sociedade na Itália. São Paulo: Nova Alexandria, 1999.
                Sobre a ambiguidade do conceito Renascimento utilizado por autores posteriores aos primeiros renascentistas com o objetivo de equiparar o Cristianismo a uma época de morte e de escuridão, cf. SÁENZ, Alfredo. La Nave y las tempestades: El Renacimiento y el peligro de mundanización de la Iglesia. Buenos Aires: Glaudius, 2004, v. 5.
  • 39. Tese de continuidade artística-cultural já defendida por BURDACH, Konrad. Riforma, Rinascimento, umanesimo. Firenze: G. C. Sansoni, 1935, em oposição à famosa interpretação de ruptura entre os dois períodos defendida por Jacob Burckhardt (1818-1897). Ver BURCKHARDT, Jacob. A cultura do Renascimento na Itália. Um ensaio. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
  • 40. POLLIO, Giorgia. “A época lombarda em Itália”. In: ECO, Umberto (dir.). Idade Média I. Bárbaros, cristãos e muçulmanos. Lisboa: D. Quixote, 2014, p. 693-697.
  • 41. TROMPF, G. W. “The Concept of the Carolingian Renaissance”. InJournal of the History of Ideas, vol. 34, n. 1 (Jan-Mar 1973), University of Pennsylvania Press, p. 3-26.
  • 42. SIDWELL, K. “The Ottonian Renaissance”. InReading Medieval Latin. Cambridge: Cambridge University Press, 1995, p. 151-172.
  • 43. HASKINS, Charles Homer. The Renaissance of the Twelfth Century. Cambridge: Harvard University Press, 1927.
  • 44. GIORGIO VASARI. Le vite de' piú eccellenti architetti, pittori, et scultori italiani, da cimabue insino a' tempi nostri. Firenze: Lorenzo Torrentino, 1550.
  • 45. GIORGIO VASARI. Vidas dos artistas (trad. de Ivone Castilho Bennedetti). São Paulo: Editora WMF e Martins Fontes, 2011, p. 412 (“Luca Signorelli da Cortona, pintor”).
  • 46. E não História da Arte. Para a distinção, ver BELTING, Hans. Imagen y culto. Una historia de la imagen anterior a la era del arte. Madrid: Ediciones Akal, 2009.
  • 47. ADSO OF MONTIER-EN-DER. Letter on the Origin and Time of the Antichrist; EMMERSON, Richard Kenneth. Antichrist in the Middle Ages: a study of medieval apocalypticism, art, and literature. Seattle: University of Washington Press, 1981.
  • 48. “Em sua enorme enciclopédia compilatória, Hortus Deliciarum, a abadessa Herrada de Hohenbourg, do século XII, faz um grande esforço para apresentar ao seu público um relato coerente e convincente da história da salvação e seu papel nela. Ela compartilha um interesse particular com outros pensadores do século XII em como seu próprio tempo se relaciona com o fim último dessa história da salvação e especialmente o papel escatológico do Anticristo. Os relatos de Herrada sobre o Anticristo baseiam-se nos escritos de Adso de Montier-en-Der e Honorius Augustodunensis, mas têm sido pouco estudados. [...] Este artigo examina o uso inovador e a modificação de Herrada do texto de Adso e a relação entre essa nova Vita textual do Anticristo e sua representação pictórica. Além disso, investiga o lugar de Herrada nos movimentos reformistas de seu tempo, a fim de entender seu engenhoso uso desses textos e tradições, especialmente suas ligações com outros importantes pensadores do século XII como Honório, Ruperto de Deutz e Gerhoch de Reichersberg. Em última análise, demonstra como a preocupação de Herrada com o cuidado adequado das mulheres sob sua guarda induz e molda seu tratamento do fim da história da salvação, processo histórico no qual ela vê a si mesma e suas canonisas como atores importantes.” – CAMPBELL, Nathaniel. “Lest He Should Come Unforeseen”: The Antichrist Cycle in the Hortus Deliciarum”. In: REILLY, Diane J.; BOYNTON, Susan L. (eds.). Gesta 54, vol. 1, 2015, p. 85-118.
  • 49. BnF Gallica.
  • 50. “[...] outro aspecto que marca quase todas as páginas da Legenda áurea é o sentimento escatológico medieval. [...] É mais significativo ainda que a última vida de santo relatada [capítulo 175] termine mostrando como o tempo presente era o da tirania, da heresia, da vacância imperial resultante da deposição de Frederico II, que para alguns tinha sido o Anticristo e para outros o Messias.” – FRANCO JÚNIOR. Hilário. “Apresentação”. In: JACOPO DE VARAZZE. Legenda ÁureaVidas de Santos (trad. do latim, apresentação, notas e seleção iconográfica). São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 20.
  • 51. Para o tema, cf. BILLOT, Louis (Cardinal). La Parousie. Paris: Gabriel Beauchesne, 1920.
  • 52. “O Evangelho [...] nos ensina que o fim [dos tempos] pode se apresentar quando menos pensamos, com a Parusia de Cristo, que será súbita como o relâmpago (Mateus 24, 27), imprevista como um ladrão na noite (I Tessalonicenses 5, 2; II Pedro 3, 10; Apocalipse 3, 3 e 15, 15), e objeto de zombaria por parte de muitos (II Pedro 3, 3 ss.; Lucas 17.26 ss.), pelo que temos de esperá-la despertos (Marcos 13, 35 ss.) e atentos aos sinais (Lucas 21, 28), e então não seremos tomados de surpresa (Lucas 21, 36; I Tessalonicenses 5, 4; Apocalipse 3, 10). O Evangelho também nos previne sobre esse dia por meio desta Parábola das Virgens, ao nos ensinar que, nestas, a lâmpada da fé não pode se manter acesa sem o óleo da caridade (Gálatas 5, 6), visto que não se trata aqui do “temor servil, fruto da fé informe” (Santo Tomás). Jesus assinala claramente a necessidade do amor para cumprir os mandamentos (João 14, 24), já que “o primeiro e maior” destes é precisamente o de amar (Mateus 22, 38).” – BÍBLIA COMENTADA STRAUBINGER. Tlalnepantla: Editora de México, 1969 (nota de Eclesiástico 7, 40).
  • 53. JACOBI A VORAGINE. Legenda aurea: vulgo historia Lombardica dicta. Ad optimorum librorum fidem. Recensuit Dr. Th. Graesse, Potentissimi Regis Saxoniae Bibliothecariuus. Editio Secunda. Cum approbatione Rev. Administratoris Ecclesiastici per Superiorem Lusatiam. Lipsiae: Impensis Librariae Arnoldianae, 1850, p. 7-8.
  • 54. JACOPO DE VARAZZE. Legenda ÁureaVidas de Santos (trad. do latim, apresentação, notas e seleção iconográfica). São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 52 (I. O advento do Senhor).
  • 55. DOMÍNGUEZ REBOIRAS, Fernando. “Soy de libros trovador”. Catálogo y guía a las obras de Raimundo Lulio. Madrid: Editorial Sinderésis, 2018, p. 42.
  • 56. RAMON LLULL. Doctrina pueril (edición crítica de Joan Santanach i Suñol). Palma: Patronat Ramon Llull, 2005 (Nova Edició de les Obres de Ramon Llull), p. 268 (XCVI. De Antecrist).
  • 57. RAMON LLULL. Doutrina para crianças (c. 1274-1276) (trad.: Ricardo da Costa e Grupo de Pesquisas Medievais da UFES III). Alicante: IVITRA, 2010.
  • 58. Diferentemente de Pedro Abelardo (1079-1142), por exemplo, que foi censurado por São Bernardo de Claraval (1090-1153). A esse respeito, ver SÃO BERNARDO DE CLARAVAL. As heresias de Pedro Abelardo (trad.: Carlos Nougué e Renato Romano). São Paulo: É Realizações, 2017, e COSTA, Ricardo da. “Há algo mais contra a razão que tentar transcender a razão só com as forças da razão? A disputa entre São Bernardo de Claraval e Pedro Abelardo”. In: COSTA, Ricardo da. Visões da Idade Média. Santo André, SP: Armada, 2019, p. 225-250.
  • 59. Para uma interpretação tipológica desses septenários, cf. CASTELLANI, Leonardo. El Apokalypsis de San Juan (traducción del griego y comentario literal). Buenos Aires: Ediciones Paulinas, 1963.
  • 60. RAMON LLULL. Llibre dels articles de la fe – Llibre què deu hom creure de Déu – Llibre contra Anticrist. Palma: Patronat Ramon Llull, NEORL, 1996.
  • 61. VILLALBA I VARNEDA, Pere. Ramon Llull. Vida i obres. Volum I. Anys: 1232-1287/1288. Obres: 1-37. Barcelona: Institut d’Estudis Catalans, 2015, p. 421.
  • 62. DOMÍNGUEZ REBOIRAS, Fernando. “Soy de libros trovador”. Catálogo y guía a las obras de Raimundo Lulio, op. cit., p. 43-44.
  • 63. ROMANO, Marta M. M.; DE LA CRUZ, Óscar. “The human realm”. In: FIDORA, Alexander, and RUBIO, Josep E. (eds.). RAIMUNDUS LULLUS. An Introduction to his Life, Works and Thought. Turnhout: Brepols, 2008, p. 452 (nota 271).
  • 64. VILLALBA I VARNEDA, Pere. Ramon Llull. Escriptor i filòsof de la diferencia. Palma de Mallorca, 1232-1316. Bellaterra: Universitat Autònoma de Barcelona, 2015, p. 137.
  • 65. RAMON LLULL. Llibre dels articles de la fe – Llibre què deu hom creure de Déu – Llibre contra Anticrist, op. cit., DEL PROLECH, 5-17, p. 119.
  • 66. “Es la primera versión del Arte grande de Raimundo (Ars magna). Aquí no es Lulio el locuaz narrador y devoto poeta de la obra anterior. [...] Es una contundente obra apologética para convertir a los musulmanes. [...] Su texto es relativamente breve y sorprende al lector con la introducción de un vocabulario muy particular, sin explicación previa alguna.” – DOMÍNGUEZ REBOIRAS, Fernando. “Soy de libros trovador”. Catálogo y guía a las obras de Raimundo Lulio, op. cit., p. 37.
  • 67. DOMÍNGUEZ REBOIRAS, Fernando. “Soy de libros trovador”. Catálogo y guía a las obras de Raimundo Lulio, op. cit., p. 38.
  • 68. DOMÍNGUES, Fernando; GAYÀ, Jordi. “I. Life”. In: FIDORA, Alexander, and RUBIO, Josep E. (eds.). RAIMUNDUS LULLUS. An Introduction to his Life, Works and Thought. Turnhout: Brepols, 2008, p. 48.
  • 69. “‘Agora’, continuou, ‘presta a máxima atenção ao que vou dizer-te. Que tiver sido levado até esse ponto pelo caminho do amor, após a contemplação gradativa e regular das coisas belas, já próximo da meta final do conhecimento amatório, perceberá de súbito uma beleza de natureza maravilhosa, precisamente, Sócrates, a que constituirá a razão de ser de seus esforços anteriores: para começar, é sempiterna, não conhece nascimento nem morte, não aumenta nem diminui; ao depois, não é bela de um jeito e feia de outro, ou bela num determinado momento para deixar de sê-lo pouco adiante, nem bela sob tal aspecto e feia noutras condições, ou aqui sim e ali não, ou bela para algumas pessoas, porém feia para outras; beleza que não se lhe apresentará sob nenhuma forma concreta, como fora o caso de um belo rosto ou de belas mãos ou de qualquer outra parte do corpo, nem sob o aspecto de um discurso ou conhecimento, nem como algo existente em qualquer parte, num animal, por exemplo, na terra, no céu ou seja no que for, mas que existe em si e por si mesma e é eternamente una consigo mesma, da qual todas as coisas belas participam, porém de tal modo, que o nascimento e a morte delas todas em nada a diminui ou lhe acrescenta nem causa o menor dano. Quem parte da multiplicidade cá de baixo, sob a orientação firme do amor dos jovens, e começa a perceber aquela beleza, é certeza encontrar-se perto da meta ambicionada. Só assim deve alguém entrar ou ser levado pelo caminho do amor, partindo da beleza das coisas particulares para subir até àquela outra beleza, e servindo-se das primeiras como de degraus: de um belo corpo passará para dois; de dois, para todos os corpos belos, e depois dos corpos belos para as belas ações, das belas ações para os belos conhecimentos, até que dos belos conhecimentos alcance, finalmente, aquele conhecimento que outra coisa não é senão o próprio conhecimento do Belo, para terminar por contemplar o Belo em si mesmo. Só nesta altura da existência, meu caro Sócrates’, falou a forasteira de Mantineia, ‘e mais em parte alguma, é que para o homem vale a pena viver, na contemplação da Beleza em si mesma. Se nalgum tempo a vires, ela te parecerá muito diferente do ouro, das vestes, dos belos meninos e adolescentes, cuja vista presentemente tanto te arrebata. [...] Que ideia faríamos, continuou, da ventura de quem se elevasse até essa visão do Belo em si mesmo, simples, puro e sem mistura, e contemplasse não a beleza maculada pela carne, por cores e mil outras futilidades perecíveis, porém a Beleza divina em si mesma, sob sua forma inconfundível? Considerarias, prosseguiu, banal a vida de quem olhasse nessa direção e contemplasse a beleza com o órgão apropriado, o espírito, e se pusesse em comunicação com ela? Não compreendes, acrescentou, que é somente nesse estado, quando contempla o Belo com o órgão que o deixa visível, que ele fica em condições de gerar, porém não simulacros da virtude, porque o seu olhar não pousa em simulacros, mas a própria realidade? Ora, quem gera e alimenta a verdadeira virtude é que merece ser querido pelos deuses, e se for dado ao homem ficar imortal, torna-se imortal ele também (os grifos são nossos).” – PLATÃO, O Banquete (trad.: Carlos Alberto Nunes). Belém: Editora da UFPA, 2011, p. 171-173 (210e-212a).
  • 70. “Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, ‘Aquele-que-é, Aquele-que-era e Aquele-que-vem’ o Todo-Poderoso.” (Ap 1, 8) – Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1991, p. 2.302.
  • 71. Curiosamente, falta o conceito de Belo aos atributos divinos de Llull (Deus não é belo?), sugestiva ausência que, nesse ponto, afasta o pensamento do filósofo catalão Llull da tradição estética platônica e o aproxima da aristotélica, ainda que o filósofo não deixa de ter presente a noção de beleza na comunicação linguística. Para isso, ver BADIA, Lola; BONNER, Anthony. Ramón Llull. Vida, pensamiento y obra literaria. Barcelona: Quaderns Crema, 1993, p. 130-140.
             Mais curiosamente ainda, na mesma época, Santo Tomás de Aquino diz que Deus é belo e a causa da beleza em todas as criaturas. Cf. SANCTI THOMAE DE AQUINO. In librum B. Dionysii De divinis nominibus expositio. Textum Taurini, 1950 (editum et automato translatum a Roberto Busa SJ), cap. 4, lição 5.
  • 72. “Na Etapa Ternária da Arte, a Figura A contém os dezesseis atributos de Deus, chamados ‘dignidades’ (ou, às vezes, ‘virtudes’), cujas semelhanças se refletem na realidade criada. A figura é desenhada com uma rede completa de linhas que se cruzam para mostrar que cada uma dessas dignidades concorda com as outras.
             Na Etapa Ternária da Arte, eles são reduzidos a nove: bondade, grandeza, eternidade, poder, sabedoria, vontade, virtude, verdade e glória. Neste momento, não são mais chamados de ‘dignidades’, mas de ‘princípios’, porque não se aplicam exclusivamente a Deus, mas a toda a escala dos seres. Essas duas funções são diferenciadas pelo fato de que as dignidades no mundo criado podem ser distinguidas uma da outra, mas coincidem e são idênticas em Deus, onde podem ser predicadas umas às outras. Em Deus, por exemplo, a bondade é grande e a grandeza é boa. O traço distintivo de Deus está neste fato e nos permite defini-Lo exclusivamente: Deus é o ser no qual coincidem a bondade, a grandeza, a eternidade e as outras dignidades; daí a demonstração per aequiparantiam ou argumento de identidade – isto é, a identidade de Deus com suas dignidades e estas com elas mesmas.” – “Principis de l’Art”. In: Qui és Ramon Llull. Centre de Documentació Ramon Llull. Universitat de Barcelona.
  • 73. PERARNAU I ESPELT, Josep. “El LLIBRE CONTRA ANTICRIST de RAMON LLULL. Edició i estudi del text”. InArxiu de textos catalans antics, 1990, Núm. 9, p. 7-182.
  • 74. COLOMER, Eusebi. “De Ramon Llull a la moderna informática”. In: EL 23 (1979), p. 113-135.
  • 75. VILLALBA I VARNEDA, Pere. Ramon Llull. Escriptor i filòsof de la diferencia. Palma de Mallorca, 1232-1316, op. cit., p. 122.
  • 76. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 121 (I, [i] De la unitat de Deu], 236, 10-22).
  • 77. “[...] nessa circular (e monocórdia) meditação ascensional está embutida a sua teoria dos correlativos: o Pai (a “bonificação”) é o sujeito (propriedade ativa); o Filho (a “bonificatividade”) é o objeto (propriedade passiva); e o Espírito Santo (“o ato de bonificar”) é o verbo (propriedade conectiva).” – COSTA, Ricardo da. “Eternidade de Deus na filosofia de Ramon Llull (1232-1316)”. InMundos medievales: Espacios, Sociedades y Poder. Homenaje al Profesor José Ángel García de Cortázar. Santander: PUbliCan, Ediciones de la Universidad de Cantabria, 2012, tomo II, p. 1215-1227.
                Para o tema dos correlativos em Llull, ver GAYÀ ESTELRICH, Jordi. La teoría luliana de los correlativos: Historia de su formación conceptual. Palma, 1979.
  • 78. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 126 (I, [ii] De la trinitat de Deu, 191-196).
  • 79. Todas as traduções do Livro contra o Anticristo são nossas. Isso porque, apesar de haver uma tradução brasileira – RAMON LLULL. Livro contra o Anticristo (trad.: Hubert Jean Cornier; revisão técnica e notas de rodapé: Esteve Jaulent; estilística literária e revisão final: Anan Semog [pseudônimo]). São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência “Raimundo Lúlio” (Ramon Llull), 2016 – consideramos o trabalho aquém das exigências filológicas necessárias para a melhor e mais profunda compreensão do texto, devido especialmente à sua proposta de tradução (facilitar a compreensão do texto medieval em detrimento do estilo circular, repetitivo, do filósofo medieval).
  • 80. O magistério da Igreja se opõe ao pensamento de Ramon Llull de provar racionalmente a Encarnação de Deus. Exponencialmente Santo Tomás de Aquino (1225-1274), aliás, seu contemporâneo (o que nos sugeriu, metodologicamente, relacionar ambos os pensadores).
                Por exemplo, no sermão Ecce Rex (1271): “Enquanto as outras obras de Deus não são perfeitamente escrutáveis, esta obra, a saber, a Encarnação, é totalmente suprarracional. – SANCTI THOMAE DE AQUINO. Sermo Ecce Rex (textum a J. Leclercq). In: Revue Thomiste, 1946 (editum et automato translatum a Roberto Busa SJ).
                “El argumento capital de Llull es que, si las Dignidades divinas (Bondad, Grandeza, Eternidad) no están ociosas ad extra y crean el mundo, tampoco deben carecer de actividad interna y estar eternamente ociosas ad intra; puesto ese principio, y atendiendo a los correlativos innatos (bonificiativo, bonificable/e, bonificar) arguye la existencia de las tres personas. En suma: se comunican ad extra las Dignidades dentro del marco finito que es esencial a la criatura, y en la medida que Dios señala a cada una; pero en la operación ad intra comunica el Padre toda su esencia, todo cuanto puede, al Hijo, y ambos al Espíritu Santo.” – EIJO GARAY, Leopoldo. “Las ‘razones necesarias’ del Beato Ramón Llull, en el marco de su época”. In: Studia Lulliana, vol. 9, n. 25, 1965, p. 31-32.
  • 81. À tal crença se atribui o dito em 2 Jo 1, 7.
  • 82. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 139 (I, [15] De la granesa e patientia de Deu], 646-653).
  • 83. O passo considerado mais antigo a respeito das quatro virtudes cardeais é o de A República – embora “[...] algo de semelhante está já em Píndaro, Ístmicas VIII. 24-25a, e em Ésquilo, Os Sete contra Tebas 610.” – PLATÃO. A República (trad. e notas de Maria Helena da Rocha Pereira). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1996, p. 176, nota 16.
             “Inicialmente, teremos de admitir que nossa cidade é perfeita, uma vez que foi constituída como devia ser. [...] Terá de ser, por conseguinte, sábia, valente, temperante e justa.” – PLATÃO. A República (trad.: Carlos Alberto Nunes). Belém: Editora da UFPA, 2016, p. 347 (427e).
  • 84. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 140 ([IV] De virtuts creades, 675-686).
  • 85. Fantastich – na linguagem terminológica da filosofia luliana, tudo o que pertence à fantasia, isto é, o que não tem existência real. Mais precisamente, é a “faculdade de formar imagens mentais ou representações de objetos ausentes, e de fazer combinações que não se encontram na realidade.” Ver “Fantasia”. In: Nou Glossari General Lul·lià. Centre de Documentació Ramon Llull – Universitat de Barcelona.
  • 86. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 145 ([i] De les falses rahons que Antichrist dirá, 35-43).
             Em sentido contrário ao entendimento dos sarracenos, cf. SANCTI THOMAE DE AQUINO. Summa contra Gentiles, Lib. 3, cap. 162 (Quod Deus nemini est causa peccandi).
  • 87. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 146 (II, [ii] Dels falsos miracles que Antichrist fará, 71-76).
  • 88. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 147 (II, [ii] Dels falsos miracles que Antichrist fará, 84-85).
             A transubstanciação é a conversão de toda substância do pão e do vinho em toda substância do corpo e do sangue de Cristo, respectivamente. Permanecem apenas os acidentes do pão e do vinho. Ela não se assemelha às conversões naturais, que acontecem segundo as leis da natureza (conversão formal), mas sobrenatural (conversão substancial), realizada unicamente pelo poder de Deus. Cf. SANCTI THOMAE DE AQUINO. Summa Theologiae: tertia pars. Textum Leoninum Romae, 1906 (editum et automato translatum a Roberto Busa SJ), IIIa, q. 75, a. 4.
             Por isso mesmo, trata-se de um milagre. O belíssimo hino Adoro Te Devote, em louvor e adoração ao Santíssimo Sacramento, expõe esse dogma: “Visus, tactus, gustus in te fallitur, / set auditu solo tute creditur”, isto é, onde falham os sentidos (visão, tato e paladar) é a fé que sustenta. SANCTI THOMAE DE AQUINO. Oratio quae «Adoro te devote» dicunt. Textum Matriti, 2007 (editum recognovit Enrique Alarcón), vv. 5-6.
  • 89. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 147 ([ii] Dels falsos miracles que Antichrist fará, 85-90).
  • 90. Os primeiros escritores cristãos, como Justino Mártir (c. 100-165) e Tertuliano (c. 155-220), já se referiam aos elementos eucarísticos como “o corpo e o sangue de Jesus Cristo”. Mas foram nos séculos IX-XI que as chamadas controvérsias eucarísticas ganharam corpo e solidificaram o dogma.
                O mais conhecido dos polemistas a respeito, Berengário de Tours (c. 1000-1088), após negar a transubstanciação, subscreveu, no Sínodo Romano de 1078, a fórmula de fé de que o pão e o vinho se transformam substantialiter, mediante a consagração, na verdadeira carne e no verdadeiro sangue de Cristo. A partir de então, a exposição do dogma progrediu – em boa parte graças a essas controvérsias – e preparou o terreno para Santo Tomás. No IV Concílio de Latrão (1215), já era uma unanimidade entre os teólogos não só a realidade, mas a própria palavra transubstantiatio. Ver LLORCA, Bernardino; GARCIA-VILLOSLADA, Ricardo; MARIA LABOA, Juan. Historia de la Iglesia Católica II. Edad Media (800-1303). La cristiandad en el mundo europeo y feudal. Madrid: BAC, 2003, p. 206 e p. 833-834.
  • 91. Parece que a necromancia era popular no tempo de Llull. Já em seu Livro da Contemplação (1271-1273), o filósofo crê em sua existência pelo fato de o demônio existir: “É algo manifesto e comprovado que a arte da necromancia é no ser [...]. E se o demônio não fosse no ser, a arte da necromancia não poderia ser, pois sem o demônio a necromancia não poderia ser usada em sua arte. Assim, como a necromancia é no ser, significa que o demônio é no ser (a tradução é nossa).” – RAMON LLULL. Obres Essencials II (OE). Barcelona: Editorial Selecta, 1960, p. 511 (Livro II, XXIX distinció, cap. CLXXVI, 29).
             Já em suas Etimologias, o bispo Isidoro de Sevilha (c. 556-636) elencou o rol de crendices populares que a Igreja sempre combateu, entre elas a necromancia: “9. Magos são aqueles que o vulgo costuma dar o nome de maléficos, pela magnitude de seus crimes. Eles perturbam os elementos, turvam a mente dos homens e, sem qualquer veneno, provocam a morte apenas com a violência emanada de seus sortilégios [...]. 11. Necromantes são aqueles que, com seus encantamentos, ressuscitam os mortos que fazem adivinhações e respondem as perguntas que lhes são feitas [...]. Para evocá-los, empregam o sangue de um cadáver, pois dizem que os demônios gostam de sangue.” – SAN ISIDORO DE SEVILLA. Etimologias I (texto latino, version española y notas por Jose Oroz Reta y Manuel-A. Marcos Casquero). Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 2000, p. 714-715 (VIII, 9, 9-11).
  • 92. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 147 ([iii] De donar, 125-129).
  • 93. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 148 ([iv] De prometiments, 137-141).
  • 94. Diferentemente de nós, que morremos por necessidade (quer seja da natureza, quer seja de alguma violência que se nos faça), Cristo morreu por Seu próprio poder e por Sua própria vontade. Cf. SANCTI THOMAE DE AQUINO. Compendium theologiae. Textum Taurini, 1954 (editum et automato translatum a Roberto Busa SJ), lib. 1, cap. 230.
             Sobre a virtude da Paciência, ver TERTULIANO, S. CIPRIANO, S. AGOSTINHO. Sobre a Paciência (trad.: Cléber Eduardo dos Santos Dias). Porto Alegre: Concreto, 2016.
  • 95. Nesse passo há um bom exemplo dos problemas compreensivos da proposta de tradução (da edição brasileira do Livro contra o Anticristo): “O Anticristo matará impassivelmente homens, enquanto Jesus Cristo pacientemente sofreu dores muito graves e morte vergonhosa.” – RAMON LLULL. Livro contra o Anticristo (trad.: Hubert Jean Cornier; revisão técnica e notas de rodapé: Esteve Jaulent; estilística literária e revisão final: Anan Semog [pseudônimo]), op. cit., p. 99. O binômio (e melodioso jogo de palavras) “pacientemente / impacientemente” “Cristo / Anticristo” do autor medieval se perdeu na opção pela tradução. “Impassivelmente” – o Anticristo matará de modo frio, indiferente (na tradução), enquanto que, no texto medieval, o Anticristo matará de modo apressado, frenético! O sentido é inteiramente diverso!
  • 96. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 149 ([v] De turments, 164-165).
             No tema do temor versus amor, o pensamento medieval colocava o amor acima do temor. Por exemplo, para Llull, o príncipe deveria procurar ser amado pelo seu povo, mais amado do que temido: “Neste ponto, como bom medieval, inverte a premissa maquiavélica – ou melhor, seria mais preciso dizer que Maquiavel (1469-1527) inverteu a premissa medieval. Pois temor sem amor provoca paixão nos corações dos homens e esta paixão ‘[...] faz considerar muitas coisas contra o príncipe, das quais se nutrem desamor contra amor, e injúria contra justiça, e traição contra lealdade, e assim das outras coisas que acontecem por temor sem amor’.” – COSTA, Ricardo da. A Árvore Imperial. Um Espelho de Príncipes na obra de Ramon Llull (1232-1316). Niterói: UFF, 2000, p. 192-193.
  • 97. “Por exemplo, Aristóteles disse que a atividade da vida contemplativa – a vida que olha a verdade – era o que melhor existia em nós, pois era a atividade virtuosa, a única estimada por si mesma, isto é, a própria felicidade (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, X, 7, 1177a até 1177b, 31).” – COSTA, Ricardo da. “A experiência religiosa e mística de Ramon Llull. A Infinidade e a Eternidade divinas no Livro da Contemplação (c. 1274)”. In: Scintilla - Revista de Filosofia e Mística Medieval. Curitiba: Faculdade de Filosofia de São Boaventura (FFSB), vol. 3, n. 1, janeiro/junho 2006, p. 107-133.
  • 98. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 150-151 (III, [i] De vida contemplativa, 16-20).
  • 99. SAN ANSELMO DE CANTERBURY. La Razón y la Fe. Fides quaeens intellectum (trad., introd. y notas de Roger P. Labrousse). Buenos Aires, Tucumán: Ed. Yerba Buena, 1945.
  • 100. LECLERCQ, Jean. O amor às letras e o desejo de Deus. Iniciação aos autores monásticos da Idade Média. São Paulo: Paulus, 2012.
  • 101. Esta é a escada dos monges, que os eleva da terra ao céu: “A leitura procura a doçura da vida bem-aventurada, a meditação a encontra, a oração a pede, a contemplação a experimenta. Por isso o Senhor mesmo diz: Buscai e encontrareis, chamai e se vos abrirá. Buscai lendo e encontrareis meditando, chamai orando e abrisse-vos contemplando.” – DOM GUIGO CARTUXO. A Escada do claustro. Carta de Dom Guigo, Cartuxo, ao Ir. Gervásio, sobre a vida contemplativa (trad.: D. Timóteo A. Anastásio, O.S.B.), III (“Qual a função de cada um dos citados degraus”).
  • 102. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 150-151 (III, [i] De vida contemplativa, 117-120; 150-165).
  • 103. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 150-151 (III, [i] De afflicció, 192-197).
  • 104. Para o tema do Inferno (e sua importância) para a tradição teológico-filosófica católica, ver COSTA, Ricardo da; PEREIRA, Evandro Santana. “Ali haverá pranto e ranger de dentes. O Inferno na Arte e na Filosofia da Idade Média”. In: MOURA, Fabricio Nascimento de (org.). O poder imaginário: diálogos com a Antiguidade, medievo e outras temporalidades. Imperatriz: Ethos, 2016, p. 274-303.
  • 105. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 150-151 (III, [ii] De vida activa. De prehicació, 249-259).
  • 106. A via saudável (no original) deve ser entendida não só como caminho da salvação da alma, mas também como uma vida moral, virtuosa, neste mundo, secular, preparação para o outro, o da Eternidade.
  • 107. “Filho, disse o eremita, Cristo veio ao mundo e foi muito diligente em amar, louvar e servir a Deus Pai, que o enviou para ser homem. Este Cristo foi muito diligente em salvar o homem, e foi tão diligente que se entregou a trabalhos, tormentos, desejou se entregar à morte, e quis que os apóstolos e os mártires fizessem o mesmo, e eles foram muito diligentes em cumprir os Evangelhos, e ir pregar por todo o mundo, suportando trabalhos e a morte.” – RAMON LLULL. Félix ou O Livro das Maravilhas. Parte II (apres., trad. e notas: Ricardo da Costa). Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal - 99. São Paulo: Editora Escala, 2009 (cap. 71. Da Castidade e da Luxúria).
                Para o tema do martírio na filosofia de Llull, ver LLABRÉS I MARTORELL, Pere-Joan. “L’ideal del Martiri en la vida i en l’obra de B. Ramon Llull”. In: Certamen del Seminari Conciliar de Sant Pere. Palma: Biblioteca Diocesana, manuscrit inèdit, 1961; GUASP GELABERT, Bartolomé. “Acuciantes empeño y deseo en Ramon Llull: su evangelización de los infieles con sed de martírio”. In: BSAL 35 (1976), p. 395-407; EVANGELISTI, Paolo. “Martirio volontario ed ideologia della Crociata. Formazione e irradiazione dei modelli francescani a partire dalle matrici altomedievali”. In: Cristianesimo nella Storia 27 (2006), p. 161-248.
  • 108. CRUZ HERNÁNDEZ, Miguel. “La fundación de Miramar y el sentido de la ‘sabiduría cristiana’ de Ramon Llull”. In: EL 22, 1978, p. 1-7; GARCÍAS PALOU, Sebastián. “Ramón Llull y Miramar”. In: San Jorge 40, Barcelona, 1960, p. 22-25; GARCÍAS PALOU, Sebastián. El Miramar de Ramon Llull. Palma de Mallorca: Instituto de Estudios Baleáricos-CSIC, 1977; SANCHIS GUARNER, Manuel. “Como aprendían el árabe los franciscanos de Miramar en el siglo XIII”. In: San Jorge 40, Barcelona, 1960, p. 27-28.
  • 109. “[...] esta supremacia papal luliana sobre os reinos da Cristandade se baseia fundamentalmente no conceito de Christianitas, a ideia de uma espécie de sociedade jurídico-espiritual de todos os cristãos (num sentido político-social), muito mais do que um simples conglomerado de reinos e povos cristãos, pois estes estariam unidos pela submissão espiritual à Igreja Romana. Esta era uma ideia grandiosa que havia sido gerada a partir do pontificado de Gregório VII (1187), terminando com o próprio Bonifácio VIII, isto é, durante boa parte do período em que Ramon escreveu suas obras.” – COSTA, Ricardo da. A Árvore Imperial. Um Espelho de Príncipes na obra de Ramon Llull (1232-1316). Niterói: UFF, 2000, p. 173.
  • 110. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 157 (III, [ii] De vida activa. De prehicació, 271-280).
  • 111. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 158 (III, [ii] De vida activa. De prehicació, 282-312).
  • 112. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 150-151 (III, [ii] De vida activa. De guerres e de batalles, 314-320).
  • 113. Já Tertuliano (c. 155-220), apologista cristão primitivo oriundo de Cartago e considerado o pai do cristianismo latino, afirmou, com todas as letras: “[…] Pero perseverad en la persecución, presidentes buenos, que seréis mejores en los aplausos del pueblo, haciéndoles esta tiesta de sacrificar cristianos: fatigadnos, atormentadnos, condenadnos, desmenuzadnos, que vuestra maldad es la prueba de nuestra inocencia y enseñanza. Por eso sufre Dios que suframos, para que lo probemos. Porque cuando estos días condenasteis á aquella señora cristiana á que fuese entregada, no al león, sino al rufián, ya confesasteis en este hecho que en nosotros la mancha de la pureza es más atroz que [329] toda pena y toda muerte. No medra vuestra crueldad por ingeniar tormentos exquisitos, que para nosotros la mayor pena es caricia más sabrosa para morir más gustosos. Segando nos sembráis: más somos cuanto derramáis más sangre; que la sangre de los cristianos es semilla. Muchos hay entre nosotros que exhortan á la tolerancia del dolor y de la muerte […].” (os grifos são nossos) – TERTURLIANO. Apologeticum (Apología de Quinto Septimio Florente Tertuliano, Presbítero de Cartago), Capitulo L. “De la victoria de los cristianos en los tormentos”. In: The Tertullian Project.
  • 114. RAMON LLULL. Llibre contra Anticrist, op. cit., p. 150-151 (III, [ii] De vida activa. De guerres e de batalles, 320-331).
             “La gracia del martirio, algo tan lejano en nuestro imaginario, es una idea que Raimundo llevó consigo toda su vida y que en muchos libros menciona.” – DOMÍNGUEZ REBOIRAS, Fernando. “Soy de libros trovador”. Catálogo y guía a las obras de Raimundo Lulio, op. cit., p. 113.
  • 115. “Conversación alegórica entre el entendimiento, la memoria y la voluntad, donde aparece también la imaginación jugando un papel nada secundario […] poniendo pegas a la argumentación de los otros tres interlocutores cuando estos van de común acuerdo. [...] Se trata, en el fondo, de un ejercicio de especulación mística [...].” – DOMÍNGUEZ REBOIRAS, Fernando. “Soy de libros trovador”. Catálogo y guía a las obras de Raimundo Lulio, op. cit., p. 43.
  • 116. “[...] Satã e as criaturas infernais surgem no Apocalipse de Saint-Sever e nas esculturas de Vézelay, de Autun, de Moissac e de Saint-Benoît-sur-Loire. Também estão presentes no catecismo do início do século XII, que é o Elucidarium, atribuído a Honorius d’Autun, o qual sistematiza elementos demonológicos disseminados em obras anteriores [...] uma importante reflexão demonológica manifesta-se na Igreja entre 1280 e 1330 [...].” – DELUMEAU, Jean. “Satã”. In: LE GOFF, Jacques (dir.). Homens e mulheres da Idade Média. São Paulo: Estação Liberdade, 2013, p. 411.
  • 117. Mc 16, 15-16.
  • 118. E não só do séc. XIII, mas sobretudo do XII. Para o tema, ver BOLTON, Brenda. A Reforma na Idade Média. Lisboa: Edições 70.

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