A tradução literária, imersão no tempo e no espaço
A Literatura de Ramon Llull (1232-1316)
In: Revista SOLETRAS 51 (2025):
Perspectivas históricas nos estudos linguístico-gramaticais,
pp. 416-441 (e-ISSN: 2316-8838).
Resumo: O ato de traduzir é uma incorporação espiritual ao mundo do escritor que foi traduzido. O conceito de compreensão ponderada com a fusão de horizontes (Horizontverschmelzung) é fundamental para a pretensão do tradutor de sentir o universo histórico-linguístico da obra literária do modo mais adequado possível. Após isso, a passagem das palavras e ideias originais para a língua traduzida é um processo de ponderação, no qual o Passado ressurge em toda a sua potência verbal. O objetivo do trabalho é apresentar os fundamentos de nossas traduções (do Catalão antigo para o Português) e alguns exemplos retirados do Libre de contemplació en Déu (O Livro da Contemplação em Deus, 1271-1274), uma das primeiras obras literárias em vernáculo redigidas pelo filósofo maiorquino Ramon Llull (1232-1316).
Abstract: The act of translating is a spiritual incorporation into the world of the writer whose work has been translated. The concept of understanding weighted by the fusion of horizons (Horizontverschmelzung) is fundamental to the translator’s aim to feel the historical-linguistic universe of the literary work in the most appropriate way possible. After this, the transfer of the original words and ideas to the translated language is a pondering process, in which the Past reemerges in all its verbal power. The aim of this work is to present the foundations of our translations (from old Catalan to Portuguese) and some examples taken from the Libre de contemplació en Déu (The Book of Contemplation in God, 1271-1274), one of the first vernacular literary works written by the Majorcan philosopher Ramon Llull (1232-1316).
Palavras-chave: Tradução – Linguística histórica – Conceitos – Ramon Llull – O Livro da Contemplação em Deus.
Keywords: Translation – Historical linguistics – Concepts – Ramon Llull – The Book of Contemplation in God.
In: Revista SOLETRAS 51 (2025):
Perspectivas históricas nos estudos linguístico-gramaticais,
pp. 416-441 (e-ISSN: 2316-8838).
Resumo: O ato de traduzir é uma incorporação espiritual ao mundo do escritor que foi traduzido. O conceito de compreensão ponderada com a fusão de horizontes (Horizontverschmelzung) é fundamental para a pretensão do tradutor de sentir o universo histórico-linguístico da obra literária do modo mais adequado possível. Após isso, a passagem das palavras e ideias originais para a língua traduzida é um processo de ponderação, no qual o Passado ressurge em toda a sua potência verbal. O objetivo do trabalho é apresentar os fundamentos de nossas traduções (do Catalão antigo para o Português) e alguns exemplos retirados do Libre de contemplació en Déu (O Livro da Contemplação em Deus, 1271-1274), uma das primeiras obras literárias em vernáculo redigidas pelo filósofo maiorquino Ramon Llull (1232-1316).
Abstract: The act of translating is a spiritual incorporation into the world of the writer whose work has been translated. The concept of understanding weighted by the fusion of horizons (Horizontverschmelzung) is fundamental to the translator’s aim to feel the historical-linguistic universe of the literary work in the most appropriate way possible. After this, the transfer of the original words and ideas to the translated language is a pondering process, in which the Past reemerges in all its verbal power. The aim of this work is to present the foundations of our translations (from old Catalan to Portuguese) and some examples taken from the Libre de contemplació en Déu (The Book of Contemplation in God, 1271-1274), one of the first vernacular literary works written by the Majorcan philosopher Ramon Llull (1232-1316).
Palavras-chave: Tradução – Linguística histórica – Conceitos – Ramon Llull – O Livro da Contemplação em Deus.
Keywords: Translation – Historical linguistics – Concepts – Ramon Llull – The Book of Contemplation in God.
I. Raízes lulianas: a tradição cristã
Imagem 1
Moisés e a sarça ardente. Afresco, séc. III, Sinagoga de Dura Europos, Síria.1 Moisés veste um himation (ἱμάτιον), traje de um professor do período helenístico (c.750-30 a.C.), retira seus calçados e aponta sua mão direita para a sarça ardente, enquanto a mão de Deus desponta acima.2 Apesar de mediterrânea como a tradição greco-romana, a cultura judaico-cristã que se expandiu a partir do Oriente Próximo com o Cristianismo tinha características distintas, como, por exemplo, o monoteísmo. Nas expressões imagéticas, uma rudeza e ingenuidade se comparada à sofisticação da arte helênica, como se pode observar nos traços desse afresco que representa uma história fundamental do Antigo Testamento.
Há duas passagens bíblicas essenciais que realçam a suma importância do valor real das palavras na tradição ocidental judaico-cristã. A primeira, vinda do próprio Deus, que responde a Moisés: “Eu sou aquele que é”.3 O verbo ser.4 Pois só Ele é. A segunda, de João, o Apóstolo (c.6-100): “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.5
Unamos as duas citações: Deus é, e é um verbo. É o Verbo. E se Ele é, nós não somos (mas tão somente pó6); se Ele é o Verbo, é palavra: é a Palavra, unidade (linguística) com um significado, expressão da existência, o estado, a qualidade e, no Seu caso, como discorreu Santo Agostinho (354-430), expressão eterna, gramatical, “...sílaba a sílaba, através das durações sucessivas dos tempos dessas sílabas”.7
Uma simples e brevíssima digressão teológica como essa é mais que suficiente para ponderarmos a força, o impacto da palavra escrita e a verdadeira obsessão pelo texto na tradição ocidental, no Povo do Livro, os judeus. Como peremptoriamente definiu George Steiner (1929-2020): “...nossa verdadeira pátria sempre foi e sempre será um texto”.8
Paradoxalmente, ainda que com honrosas exceções, não foram os judeus os maiores propagadores da literatura profana, tampouco da especulação desinteressada – devido, em parte, à força de sua tradição oral e à tradição exegética talmúdica –, mas os cristãos. Em uma curiosa, porém filosoficamente previsível associação reflexiva com a sólida tradição neoplatônica vigente no Império Romano quando da expansão da boa-nova apostólica nos primeiros séculos cristãos9, a novidade da palavra universal cristã, difundida a todos os povos capazes de ouvi-la, fez brotar uma miríade de considerações exegéticas, textuais, gramaticais, verbais.10
II. A tradução na tradição cristã
Há um importante condicionamento gramatical que distingue as chamadas três religiões do Livro (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo). Enquanto a Tanakh foi escrita em hebraico e em aramaico bíblicos e o Alcorão em árabe clássico, a Bíblia foi redigida em hebraico bíblico, em aramaico e em grego koiné. Ademais, ao contrário do Cristianismo e do Islamismo, o Judaísmo não é apologético: não pretende convencer ou converter ninguém.11
Por sua vez, enquanto o Alcorão foi revelado ao profeta Maomé (c.570-632) pelo arcanjo Gabriel12 em um período de cerca de vinte anos, a Bíblia foi escrita por diferentes personagens ao longo de oitocentos anos. Essas circunstâncias histórico-filológicas fizeram com que os cristãos cultivassem o hábito de debater possíveis contradições em seus conteúdos escritos. Isso contribuiu para o seu constante crescimento intelectual13 e também para que se realizassem traduções daquelas três línguas de seus livros para o latim14 – a mais importante delas a de São Jerônimo (342-420) quem, na segunda metade do século IV, traduziu a Bíblia do hebraico e do grego para o latim.15
A apologética impôs-se assim na tradição cristã – baseada, naturalmente, na determinação do próprio Cristo:
E disse-lhes: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura. Aquele que crer e for batizado será salvo; o que não crer será condenado. Estes são os sinais que acompanharão aos que tiverem crido: em meu nome expulsarão demônios; falarão em novas línguas; pegarão em serpentes, e se beberem algum veneno mortífero, nada sofrerão; imporão as mãos sobre os enfermos, e estes ficarão curados.”
Ora, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao céu e sentou-se à direita de Deus. E eles saíram a pregar por toda parte, agindo com eles o Senhor, e confirmaram a Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam (Mc 16, 15-20).
III. Literatura e expressões literárias cristãs
Imagem 2
Retrato do Evangelista João (c.865-875). Iluminura, tinta e pigmentos em pergaminho, 17,5 x 12,2 cm (página inteira), Walters Art Museum, Baltimore (exhibitions: Illuminating the Word: Gospel Books in the Middle Ages, 2004). São João Evangelista, com vestes muito drapeadas em tons alaranjados e sandálias, está sentado em uma cadeira dobrável com almofada. Escreve seu Evangelho em um longo pergaminho. Acima, à direita, a águia, sua representação no Tetramorfos. Desde muito cedo impôs-se no imaginário cristão a autoridade da letra escrita.
Apesar de nunca ter fundamentado seus diálogos interreligiosos na Bíblia, o filósofo Ramon Llull (1232-1316) é herdeiro direto da apologética cristã, do chamado de Cristo à proclamação da boa-nova. Valeu-se ele de todas as formas escritas então conhecidas – diálogos, disputas16, exemplos (exempla17), novelas18, poesias19, provérbios20 e sermões21 – para, de um modo um tanto heterodoxo, de fato, provar racionalmente a existência da Santíssima Trindade a judeus e muçulmanos.
Esse anseio racional pelo diálogo, esse padrão de abertura para com o outro, era uma natural consequência da curiosidade científica da época. Por exemplo, nos séculos XII-XIII, estudiosos em Toledo trabalharam com a tradução de textos clássicos (greco-latinos) que haviam, por sua vez, sido traduzidos do árabe ou do hebraico.22 A Península Ibérica, por ser palco de múltiplos encontros culturais, propiciou essa forma dialogante aos debates filosóficos e teológicos.23
Mas antes de nos debruçarmos sobre nossas traduções de algumas passagens do Livro da Contemplação em Deus (1271-1274), sua monumental obra literária, sua síntese literária24, devemos responder: o que é Literatura? Gadamer (1900-2002) a define como um ter-sido-escrito, forma gramatical inerte, mas que não atenua seu ser originário, pelo contrário, pois são palavras simultaneamente vivas e orais. A Literatura não só admite, mas requer uma realização secundária: a leitura (ou fala).
Tal definição, cronologicamente abrangente, filosoficamente integral, abarca a totalidade dos enunciados próprios às palavras escritas, tanto da exegese teológica quanto da estética literária.25
O conceito de Literatura é moderno, culturalmente cristão, geograficamente europeu, criado nos séculos XVIII-XIX. Na Idade Média, nos séculos XIII e XIV, existiam gêneros, mas não eram entendidos por seus autores e leitores como textos autônomos (ou “nacionalmente” significativos).26
No entanto, havia sim uma consciência de uma atividade literária, da existência de um corpus literário, de uma cultura literária comum: era a escrita a principal detentora de autoridade.27
IV. O Livro da Contemplação em Deus (1271-1274)
Contemplació es actu de pensa qui en Deu pensa.
Contemplar es parlar ab Deu de ses raons e dels actus d’aquelles.Contemplação é o ato do pensamento que em Deus pensa.
Contemplar é falar com Deus sobre Suas razões e Seus atos.28
Imerso nessa rica tradição expressiva, Ramon Llull concentrou toda a força efusiva de seus propósitos de conversão do mundo na palavra escrita, muito mais do que na oralidade.29 Essa atividade missionária cristã, textual, deveria principiar para o filósofo com uma intensa experiência reflexiva sobre a fé. Esse foi o objetivo de Llull ao redigir o Livro da Contemplação em Deus: oferecer farto material escrito que contivesse uma refutação do Islã, além de apresentar o método para usar esse material.30
A monumental obra já foi definida como uma das mais imponentes da literatura universal – não só por seu amplíssimo conteúdo (pois seu autor percorre todas as vicissitudes da vida humana e extra-humana), mas também por ser uma exposição racionalmente fundamentada.31
Sua arquitetura é equiparável a três obras da cultura medieval32: A Cidade de Deus (c.413-426)33, de Santo Agostinho (354-430); a Divina Comédia (c.1308-1321) de Dante Aliguieri (c.1265-1321)34; e a Suma Teológica (c.1265-1274), de Santo Tomás de Aquino (1225-1274).35
Nas próprias palavras de Llull, a composição da obra foi alicerçada na ciência teológica e na ciência natural:
Tabela 1
Libre de contemplació | Livro da Contemplação |
Capítol CCXXX Com és tractat del faedor sensual e del faedor entel∙lectual | Capítulo 230 Como deve ser tratado o autor sensual e o autor intelectual |
§1. Ah, Déus eternal, sens fi e sens començament! A vós, Sènyer, sia donada glòria e laor per tots temps, car vós sabets, Sènyer, que de les quatre causes generals és l’una faedor, del qual faedor cové tractar e parlar en quatre maneres: faedor sensual prop e faedor sensual luny, e faedor entellectual prop e faedor entellectual luny; les quals quatre maneres, Sènyer, fan a encercar en cinc coses: en lo firmament, e en los vegetables, e en los animals, e en los metalls e en les obres fetes artificialment.
(...)
§30. On, beneit siats vós, sènyer Déus, car aquells hòmens qui tracten més del faedor entellectual luny que dels altres faedors, aquells són pus vertaders, e pus dreturers, e pus misericordiosos, e pus humils, e pus liberals, e pus leials e pus amables que neguns dels altres hòmens. On, com açò sia enaixí, doncs qui vol més fruir, Sènyer, del faedor entellectual luny que tractar de negú dels altres faedors, venga contemplar en est Libre de Contemplació, lo qual és compost de ciència teological e de ciència natural, la qual composició e contemplació és feta a glòria e a laor de nostre senyor Déus.36
|
§1. Ah, Deus eterno, sem fim e sem princípio! A Vós, Senhor, seja dada glória e louvor por todos os tempos, pois Vós sabeis, Senhor, que das quatro causas gerais é uma o autor, do qual autor convém tratar e falar de quatro maneiras: autor sensual próximo e autor sensual distante, e autor intelectual próximo e autor intelectual distante. Por sua vez, essas quatro maneiras, Senhor, fazem com que investiguemos em cinco coisas: no firmamento, nos vegetais, nos animais, nos metais e nas obras feitas artificialmente.
(...)
§30. Assim, bendito sejais Vós, Senhor Deus, pois aqueles homens que se ocupam mais com o autor intelectual distante do que com os outros autores, aqueles são mais verdadeiros, mais justos, mais misericordiosos, mais humildes, mais liberais, mais leais e mais amáveis do que quaisquer outros homens. Logo, como isso é assim, quem deseja mais fruir, Senhor, o autor intelectual distante do que se ocupar com quaisquer outros autores, venha contemplar neste Livro da Contemplação, que é composto pela ciência teológica e pela ciência natural, e cuja composição e contemplação são feitas para a glória e o louvor de Nosso Senhor Deus.37 |
De imediato, percebe-se o ritmo cadenciado, sincopado, das frases – e a importância que o autor dá à pontuação, especialmente na alternância do local da palavra “Senhor”38 e às adjetivações (para definir e qualificar Deus). Como é um espontâneo diálogo confessional com Deus no qual Llull constata racionalmente a situação do mundo e a expõe à divindade de modo melancólico, isso requer – exige! – que a tradução mantenha essa característica suave e triste, meditativa e chorosa, lenta, reiterada e sentida.39
Em outras palavras, a intenção e os sentimentos do autor (que se refletem em seu estilo40) conferem determinadas prioridades formais ao tradutor. Ele deve se adaptar ao estilo da obra e ao tempo em que ela foi escrita, não o contrário: é preciso deixar o Passado e o escritor em paz e levar o leitor do Presente ao seu encontro.41
IV.1. A Verdade na Beleza das palavras
Como todos os escritores medievais, Llull tinha especial preocupação com a verdade das palavras, isto é, com sua capacidade de expressar gramaticalmente a realidade criada por Deus. E, como os escritores antigos, fazê-lo de modo belo: a beleza de um discurso deveria estar diretamente proporcional à verdade que expressasse.42
No caso do Livro da Contemplação, próximo do fim da obra há um capítulo especialmente dedicado a isso, o de número trezentos e cinquenta e nove, mas, devido à extensão de seus trinta artigos, selecionei somente quatro para tradução e comentário:
Tabela 2
Libre de contemplació | Livro da Contemplação |
Capítol CCCLIX Com hom adorant e contemplant Nostre Senyor Déus, sap haver art e manera de dir paraules rectoricalment ordonades | Capítulo 359 Como o homem, ao adorar e contemplar Nosso Senhor Deus, pode aprender a arte e a maneira de dizer palavras retoricamente ordenadas |
§1. Oh Déus gloriós, vertuós, qui sóts glòria de mes amors! Qui vol parlar bellament, sàpia haver art e manera per la qual sàpia formar e dir sàviament e ordonada ses paraules; car enaixí com lo joglar ha art e manera en fer lo so en la samfonia o en la caramella, enaixí cové que hom haja art e manera a dir paraules ordonades e rectoricades.
(...)
§11. Amorós Senyor, qui del firmament vol parlar ni vol fer per lo firmament nulla bella comparació, parle de la granea e de l’ivaciositat del firmament e de la bellea del sol, e de luna, e de les esteles, e de lur resplendor e de la vertut que han sobre los corses elementats; e aitant com lo sol és pus bell e major e pus replendent que la luna, e la luna pus que les esteles, d’aitant pus volenters s’esforç a parlar e a fer comparacions del sol que de la luna e de la luna que de les esteles, car aitant com hom parla de les coses qui són pus belles e majors e pus vertuoses, d’aitant són les paraules pus belles e mills agradables a oir e a ésser enteses.
(...)
§18. Honrat Senyor, tot los pus bell e·l pus vertuós vocable que hom pusca nomenar, és nomenar Jesucrist, car qui nomena Jesucrist nomena vostra essència divina gloriosa, e nomena la vostra sancta humanitat qui val molt més sens tota comparació, que non fan totes quantes creatures són. Enaprés, Sènyer, tot lo mellor e·l pus bell vocable que hom pusca nomenar és nostra dona sancta Maria, Verge gloriosa, car nulla creatura ni totes les creatures qui sien no valen tant ni no han tanta de vertut ni de glòria ni d’honrament com ha sancta Maria. Enaprés, com hom haurà nomenats aquests pus excellents vocables, si vol nomenar bells vocables qui són molt bells a nomenar, nomèn madona sancta Anna, e monsenyor sant Joaquim e monsenyor sent Joan, e sent Jacme, e sent Pere, e sent Andreu, e sent Paul, e los apòstols, e sent Francesc, e sent Domingo, e sent Bernat, e sancta Magdalena, e sancta Caterina e tots los sants de glòria. On, beneit siats vós, sènyer Déus, car aitant com los sants de glòria són majors e mellors en glòria que nós no somen est món, aitant fa ells pus bell nomenar que no fa les coses qui só en est món.
(...)
§30. Gloriós Senyor, enaixí com l’home qui vol belament parlar convé que l’enteniment encere en la memòria ço que ha estojat la memòria, enaixí aquell qui vol entendre ço que ou, cové que l’enteniment estoig en la memòria ço que·l maestre ab l’enteniment trau de son remembrament; e enaixí com lo maestre qui mostra convé que embellesca ses paraules feent bella cara e feent semblant de somriure per ço car l’enteniment dóna ço qui és en la memòria, per lo qual do la volentat deu fer somriure la cara del maestre per ço car dóna e deu haver lo maestre plaer com dòna, enaixí l’escolà qui vol apendre e entendre deu fer cara sàvia e que no somria per ço car l’enteniment estoja en la memòria e no dóna; car així com la cara del maestre deu ésser alegre per alegrar los escolans, així la cara dels escolans deu dar semblant de tristor per ço car estoja l’enteniment e no dóna. On, com açò sia, Sènyer, enaixí, doncs qui vol haver art e manera d’apendre o de mostrar ab bells dictats e ab belles paraules, sàpia haver l’art e la manera damunt dita a glòria e a laor de son gloriós Déu.
|
§1. Oh, Deus glorioso, virtuoso, que sois a glória de meus amores! Quem deseja falar belamente, que aprenda a arte e a maneira com as quais consiga formar e dizer, de modo sábio e ordenado, suas palavras, pois assim como o jogral sabe a arte e a maneira de fazer soar a flauta de pã43 ou a charamela44, do mesmo modo convém que o homem aprenda a arte e o modo de dizer retoricamente palavras ordenadas.
(...)
§11. Amoroso Senhor, quem do firmamento deseja falar e fazer alguma bela comparação, que fale de sua grandeza e de sua rapidez, e da beleza do Sol, da Lua e das estrelas, de seu resplendor e da virtude que têm sobre os corpos elementados. Pois assim como o Sol é mais belo, maior e mais resplandecente do que a Lua, e a Lua mais do que as estrelas, mais prazerosamente deve se esforçar para falar e fazer comparações do Sol que da Lua, e da Lua que das estrelas, pois quanto mais o homem fala das coisas que são mais belas, maiores e mais virtuosas, são as palavras mais belas e mais agradáveis de ouvir e de serem entendidas.
(...)
§18. Honrado Senhor, o mais belo e o mais virtuoso vocábulo que o homem pode pronunciar é o de Jesus Cristo, pois quem menciona “Jesus Cristo” designa a Vossa essência, divina e gloriosa, e a Vossa santa humanidade, que vale muito mais e acima de qualquer comparação do que todas as criaturas que existem. Depois, Senhor, o melhor e o mais belo vocábulo que o homem pode dizer é o de Nossa Senhora Santa Maria, Virgem gloriosa, pois nenhuma criatura, nem todas as criaturas que existem, valem tanto nem têm tanta virtude, glória e honra como Santa Maria. A seguir, após tiver pronunciado estes excelentíssimos vocábulos, caso deseje designar outros belos vocábulos, belíssimos de serem nomeados, que pronuncie o nome da senhora Santa Ana, o do monsenhor São Joaquim e o do monsenhor São João, e São Jaime, São Pedro e Santo André, e São Paulo e os apóstolos, e São Francisco e Santo Domingo, e São Bernardo, Santa Madalena, Santa Catarina, e todos os santos de glória. Assim, bendito sejais Vós, Senhor Deus, pois tanto quanto os santos de glória são maiores e melhores em glória que nós o somos neste mundo, tanto é mais belo nomeá-los do que as coisas que existem neste mundo.
(...)
§30. Glorioso Senhor, assim como convém que o homem que deseja falar belamente procure na memória, com seu entendimento, o que ela guardou, da mesma forma, quem deseja entender o que escuta, convém que seu entendimento conserve em sua memória o que o mestre, com seu entendimento, retirou de sua lembrança. E assim como convém que o mestre que expõe embeleze suas palavras com um belo rosto e um semblante sorridente, para que seu entendimento ofereça o que se encontra em sua memória, dom que a vontade deve fazer o rosto do mestre sorrir para que ele não só ensine, mas tenha prazer com o que ensina, da mesma forma, o estudante que deseja aprender e entender deve fazer um rosto sábio e não sorrir, para que seu entendimento conserve [o que aprendeu] em sua memória e não se esqueça, pois assim como o rosto do mestre deve ser alegre para alegrar os estudantes, da mesma forma o rosto dos estudantes deve mostrar um semblante sóbrio, para que seu entendimento absorva [o que aprendeu] e não se esqueça. Logo, como isso é assim, Senhor, quem deseja ter a arte e a maneira de aprender ou ensinar com belas frases e belas palavras, que saiba a arte e a maneira acima ditas, para a glória e o louvor de seu glorioso Deus. |
Os quatro artigos do capítulo 359 do Livro da Contemplação que traduzi permitem algumas observações interessantes sobre o ato da tradução. No §1, a exigência de o tradutor fazer uma pesquisa em História da Música – a tradução é uma área multidisciplinar no âmbito das Letras – além da necessária adequação do texto original (no caso, o Catalão antigo) à língua receptora: “...manera a dir paraules ordonades e rectoricades” (“...maneira de dizer palavras ordenadas e retoricadas” não, mas “...modo de dizer retoricamente palavras ordenadas”).
No §11, a inclusão de pronomes possessivos e a eliminação de alguns artigos deixaram o sentido das frases mais claro, sem alterar a intenção do autor. Na passagem “...d’aitant pus volenters s’esforç a parlar...”, a conjunção “portanto” (“aitant”), também é perfeitamente dispensável. No §18, pareceu-me que o segredo do ritmo das frases na tradução estava no verbo “nomenar” – literalmente “dizer o nome, designar”45 (como “nomear” em Português), que o filósofo utiliza onze vezes (certamente para dar encadeamento rítmico ao texto)! No entanto, em Português, ficaria maçante manter essa repetição. Por isso, optei pela variação de seus sinônimos (que englobam seu sentido, com suas respectivas nuances compreensivas): “nomear”, “pronunciar”, “mencionar”, “dizer”, “designar”.
Também no §30 incluí pronomes possessivos, mas nessa passagem pareceu-me importante incluir o verbo “aprender” em duas passagens, para complementar o verbo “conservar”, pois quem conserva, conserva algo. E o único momento em que me permiti alterar duas palavras – “tristeza” para “sobriedade” e “dar” para “esquecer” – foi com a intenção de deixar o sentido claro para o leitor atual, já que se mantivesse a literalidade das frases a ideia seria incompreensível.
Esse é um momento difícil para o tradutor. Ainda que a dúvida sempre permaneça na mente, a segurança de tal ato reside basicamente em duas coisas: 1) familiaridade com o autor do texto original e 2) experiência de vida. A primeira se adquire com a prática de traduzir obras do escritor. É um conhecimento gradativo, passo-a-passo, à medida que as dificuldades se apresentam em cada frase, em cada palavra.
A segunda com a própria maturidade existencial do tradutor. No caso, imaginei a situação na qualidade de aluno que fui e professor que sou, em sala de aula, e tentei me transportar para o cenário familiar do filósofo que, como ele mesmo narrou em sua autobiografia (Vida coetânea 11-12), teve nove anos de aulas particulares de árabe com um escravo.46 Obviamente que não exatamente na mesma situação de mais de 700 anos atrás, mas no ato em si de aprender um conhecimento de alguém (como aluno) e depois passar ideias para um texto (como professor).
Assim, “o entendimento conserva na memória e não dá” (“l’enteniment estoja en la memòria e no dóna”)? Não “dá”? Preferi “não se esqueça”, pois o “entendimento conserva”, e um de seus antônimos (o mais adequado no âmbito mental do ato de aprender) é esquecer. Até porque quem aprende, mas para de aprender, esquece.47
IV.2. A Beleza na Verdade das palavras
Na cosmogonia cristã, como Deus é o que é, e é a Verdade, a partir de Sua perfeita verdade eterna nossas imperfeitas verdades se espelham e imperfeitamente se reproduzem. No início do Livro da Contemplação, o capítulo 23 é dedicado ao tema. Seu título é Como Deus é a verdade, uma das passagens mais belas do primeiro terço da obra. Para apresentar alguns de seus artigos, sigo o mesmo método: traduzo extratos e comento – assim sou formalmente constrangido a não por palavras na boca de quem traduzo e interpreto.
Tabela 3
Libre de contemplació | Livro da Contemplação |
Capítol XXIII Com Déus sia veritat | Capítulo 23 Como Deus é a Verdade |
§1. Déus meu e Senyor meu! Vós qui sóts veritat, plàcia-us que obrats ma boca en veritat, enaixí que no sia nulla paraula passant per ella sinó vera.
(...)
§4. Perdurable Senyor, rei de glòria, environador de tots los locs! Perdó e do e misericòrdia conegam a vós e en vós, car vós sóts aquell d’on neix e brolla veritat a nosaltres. On, tan sóts vós vera veritat, que nulla falsetat no pot caer en vós ni venir de vós.
§5. Enaixí, Sènyer, com hom deu a vós atribuir tota bonea e tot honrament e tota vertut, per ço car sóts veritat, enaixí deu ésser atribuïda a mi tota viltat e tota mesquinea e tot defalliment, per ço car som tot en falsetat. Car jo som aquell qui tots temps m’esllenegué de veritat e fugí a ella, e cerqué les vies de falsetat.
§6. E tot açò m’és esdevengut, Sènyer, per ço car jo cercava veritat lla on no era, e∙m confiava en altres coses qui vós no eren.
§7. Beneit Senyor, benedicció e noblea e majoria confessem ésser en vós, qui sóts tan verament veritat, que la vostra veritat no∙s mou de ver ni no∙s camia en no ver; enans, Sènyer, infinidament e eternal fos ver, e serets així verament ver, que null tempos no fo ni serà en vós nulla cosa contrària de ver.
§8. Pròpria cosa és, sènyer Déus, a la vostra veritat, fermetat sens tota alteració, e açò és, Sènyer, per ço car enfre la vostra veritat e enfre lo contrari de veritat, no ha nulla conveniència per què∙s pusquen ajustar, ni vostra essència pusca ésser en un temps en veritat e en altre temps no veritat.
(...)
§12. Gloriós Senyor, ple de tota veritat, per ço car a la veritat qui és en nós és haüda privació denant, per açò la nostra veritat e la nostra falsetat s’acompanyen e s’ajusten en nostre ésser, e som en un temps en veritat e en altre en falsetat; e tot aquest camiament nos ve per raó de la privació e de la falsetat, qui són semblants en natura e concordants a destruïment de veritat.
(...) §22. Oh vós, Rei de glòria, qui gloriejats los vostres amics en glòria! Honor, e reverència, e gràcies e mercès hajam a vós, car tant sóts vós senyor vertader e tant sóts amador de veritat, que anc no traís ni enganàs null vostre amic ni enemic, ni null hom no fo enganat en vós, pus que a vós se confiàs, ni no li trencàs anc, Sènyer, nulla promesa que li feéssets.
§23. Ah Senyor meu e Déu meu! No som jo aquell qui pusca açò vanar, car jo som aquell qui he traïts e enganats molts amics meus, als quals he dites moltes d’avolees e de falsies e he fetes moltes d’injúries. E tot açò faïa per ço car jo no sabia ni cogitava vostra veritat ni la vertut e noblea qui és en vostra vera veritat. |
§1. Deus meu, Senhor meu! Que agradeis a Vós, que sois a Verdade, abrir minha boca para a verdade, para que assim não haja nenhuma palavra que dela saia a não ser a verdade.
(...)
§4. Perpétuo Senhor, rei da glória e abrangedor de todos os lugares! Perdão, dom e misericórdia reconheçamos a Vós e em Vós, pois sois aquele onde nasce e brota a Verdade para nós. Assim, sois tanto a verdadeira Verdade, que nenhuma falsidade pode recair sobre Vós, nem vir de Vós.
§5. Assim, Senhor, como o homem deve a Vós atribuir toda a bondade, toda a honra e toda a virtude, porque sois a Verdade, do mesmo modo deve ser atribuída a mim toda a vileza, toda a mesquinharia e toda a deficiência, pois estou inteiramente na falsidade. Isso porque sou aquele que sempre se esquivou da verdade e dela fugiu, além de buscar os caminhos da falsidade.
§6. E tudo isso me aconteceu, Senhor, porque eu procurava a verdade onde ela não existia, e confiava em outras coisas que não eram Vós.
§7. Abençoado Senhor, bênção, nobreza e superioridade estão em Vós, que sois tão verdadeiramente a Verdade que Vossa Verdade não se move do Verdadeiro, nem muda para o não verdadeiro, pelo contrário, Senhor, infinita e eternamente fostes Verdadeiro e sereis assim verdadeiramente a Verdade, pois nunca houve nem haverá em Vós qualquer coisa contrária da Verdade.
§8. Coisa própria é, Senhor, à Vossa verdade, firmeza sem qualquer alteração, e isso é assim, Senhor, porque entre a Vossa verdade e o contrário da verdade não há qualquer conveniência pela qual possa haver concordância, nem Vossa essência pode estar em um tempo na verdade e em outro tempo na inverdade.
(...)
§12. Glorioso Senhor, pleno de toda a Verdade, como a verdade que existe em nós foi despossuída, nossa verdade e nossa falsidade caminham juntas e se unem em nosso ser, e por isso estamos em um momento com a verdade e em outro com a falsidade. E toda essa mudança nos acontece por causa da privação e da falsidade, que são naturalmente semelhantes e concordam com a destruição da verdade.
(...)
§22. Oh, Vós, rei da glória, que glorificais vossos amigos em glória! Honra e reverência, graça e mercê tenhamos de Vós, pois somente Vós sois Senhor verdadeiro e apenas Vós sois amante da verdade, pois nunca traístes nem enganastes nenhum amigo ou inimigo, tampouco nenhum homem foi enganado em Vós, que em Vós confiou, nem nunca rompestes nada, Senhor, nenhuma promessa que Lhe fizestes.
§23. Ah, Senhor meu e Deus meu! Não sou aquele que disso possa se vangloriar, pois traí e enganei muitos amigos meus, aos quais disse muitas maldades, falsidades, e lhes fiz muitas injúrias. E tudo isso fazia porque não sabia nem pensava em Vossa Verdade, nem em Vossa virtude e nobreza que existem em Vossa verdadeira Verdade. |
Traduzi nove dos trinta artigos desse capítulo não só por sua beleza estética e literária, mas, sobretudo, pela sinceridade explícita do autor, por sua capacidade de comunicação com seu leitor através do diálogo com seu interior, consigo próprio, com Deus como testemunha.48
Essa notável sinceridade do filósofo, típica dos recém-convertidos49, auxilia enormemente a tradução, por facilitar a necessária fusão de horizontes (Horizontverschmelzung), isto é, a incorporação espiritual do tradutor ao mundo do escritor.50
Ainda que Llull não diga expressamente, todo o capítulo vinte e três está calcado no versículo bíblico e joanino “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém pode vir ao Pai senão por mim”.51 Ele fundamenta a antítese literária que o filósofo cria em relação à sua pessoa com Deus – enquanto Deus é perdão, dom e misericórdia (§4), bondade, honra e virtude (§5); Llull é vileza, mesquinharia, deficiência e falsidade. Deus é inalterável (§8), Llull é inconstante (§12).
Esse jogo invertido de espelhos possibilita ao autor o exercício da virtude da humildade graças ao tópico medieval teológico da autocomiseração – que, no maiorquino, nunca é fórmula de recurso retórico, como muitas vezes já foi pensado52, mas a honesta sinceridade de sua conversão.53
Conclusão
Tabela 4
Libre de contemplació | Livro da Contemplação |
Capítol CCCLXVI Com se reconta la tenor d’aquest Libre de Contemplaciò, a glòria e a laor de Nostre Senyor Déus | Capítulo 366 Como se narra o teor deste Livro da Contemplação, para a glória e o louvor de Nosso Senhor Deus |
(...)
III. Com se contempla aquest libre
§19. Oh, Déus amat sobre tots amors, temut sobre totes temors! Qui vol haver art e manera per la qual sàpia contemplar en aquest libre e per aquest libre, cové que sàpia formar quatre maneres de contemplació: la primera és que hom començ al cap primer d’aquest Libre de Contemplació e que arreu liga tot lo libre; segona manera és que home qui sàpia lo libre e haurà molt lest en lo libre, que vaja ligent a aventura d’un palàgrafi en altre e d’un capítol en altre triant aquelles raons qui a ell mills se converan en aquell temps, car enaixí com les viandes se convenen mills ab lo cors en diverses temps les unes que les altres, així les raons les unes se convenen mills ab l’ànima en un temps que en altre; terça manera de contemplar és que hom lija en la taula les rúbriques; quarta manera és que hom entellectueig la raó que haurà lesta d’un palàgrafi o d’un vers a altre, membrant e entenent e volent.
(...)
IV. Com hom fa gràcies a Déu d’aquest “Libre de Contemplació”
(...)
§26. Gloriós Senyor, no tan solament lo vostre servidor és a vós obligat que∙us faça gràcies e mercès d’aquest libre, que sí som de tots los béns e de tots los cessaments dels mals als quals serà aquest libre ocasió. E encara endemés, que no tan solament m’havets vós dat aquest libre en lo remembrament e en l’enteniment e en lo voler, que sí havets donades per aquest libre moltes de vertuts e m’havets sanat e mundat de molts greus pecats. On, beneit siats vós, sènyer Déus, car com entré en aquest libre era pobre e mesquí e vil e culpable mon remembrament e mon enteniment e mon voler, e ara havets ab aquest libre tan eixamplat e tan enrequit e tan purificat mon remembrament e enteniment e voler, que venga qüestió o temptació o vici o dubitació on se vulla ni de qual part se vulla, que a tot abasta aquest libre al remembrament qui∙l remembra e a l’enteniment qui l’entén e a la volentat amadora d’aquest libre. Emperò, Sènyer, en molts de locs en esta obra nos gabam d’ésser vertuós e d’ésser viciós, e açò fem per tal que l’obra ne sia mills afigurada; on, les vertuts deïm nós que no són en nós, mas que ho deïm així per embellir l’obra, car així com lo trobador se gaba de bé ésser enamorat per tal que sa cançó ne sia mellor, enaixí nós havem dit que ha en nós vertuts per entenció d’embellir l’obra; e car nós nos acusam dels vicis qui són en nós e car lo nostre nom no escrivim en esta obra, per açò és significat que nós no∙ns gabam d’haver vertuts ni∙ns loam per haver vanaglòria, ans ho fem per tal que l’obra ne sia mellor.
| (...)
III. Como se contempla este livro
§19. Oh, Deus, amado acima de todos os amores, temido sobre todos os temores! Quem deseja ter a arte e a maneira pelas quais saiba contemplar neste livro e por este livro, convém que saiba formar quatro modos de contemplação: o primeiro é que inicie o primeiro capítulo deste Livro da Contemplação e que leia todo o livro sem interrupção; o segundo modo é o homem que conhece o livro e o tenha lido muito, vá lendo casualmente de um parágrafo a outro e de um capítulo a outro, e selecione as razões que melhor forem convenientes naquele momento, pois assim como as comidas são mais convenientes ao corpo em tempos diferentes umas que outras, do mesmo modo, as razões são mais convenientes umas que outras à alma em um tempo que em outro; o terceiro modo de contemplar é que o homem leia no Índice os títulos, e o quarto modo é que intelija a razão que tiver lido de um parágrafo ou de um versículo a outro, e lembre, entenda e deseje.
(...)
IV. Como o homem dá graças a Deus por este Livro da Contemplação
(...)
§26. Glorioso Senhor, não apenas o vosso servidor é a Vós obrigado a dar-Vos graça e mercê por este livro, mas também por todos os bens e todos os fins dos males que será este livro ocasião. E ainda mais: não somente haveis Vós me dado este livro para a lembrança, o entendimento e a vontade, mas também haveis dado através deste livro muitas virtudes e me haveis sanado e limpado de muitos graves pecados. Assim, bendito sejais Vós, Senhor Deus, pois quando iniciei este livro eu era pobre, mesquinho, vil e culpado em minha memória, em meu entendimento e em minha vontade, e agora haveis, com este livro, ampliado, enriquecido e purificado tanto a minha memória, o meu entendimento e a minha vontade, que pode vir indagação, tentação, vício ou dúvida, venha de onde venha, que basta este livro para a memória que lembra, para o entendimento que entende e para a vontade amante deste livro. Contudo, Senhor, em muitos locais desta obra nos gabamos de ser virtuoso e vicioso, mas isso fizemos para que a obra fosse melhor representada (na imaginação). Portanto, onde dissemos que as virtudes estão em nós, assim o fizemos para embelezar a obra, pois da mesma forma que o trovador se gaba de estar muito enamorado para que sua canção fique melhor, dissemos que há virtudes em nós com a intenção de embelezar a obra. Por isso acusamos os vícios que estão em nós e não escrevemos o nosso nome na obra para significar que não nos gabamos de ter virtudes nem nos louvamos para ter vanglória, mas tudo fizemos para que a obra ficasse melhor. |
Traduzir é um contínuo processo mental de ponderação: até que ponto a potência verbal das palavras traduzidas da língua original ecoam na língua receptora? Mais: ponderação contínua quando se trata de um texto de mais de setecentos anos! Pois quanto maior a distância temporal, maior os estranhamentos, os sobressaltos, as readequações. Em nosso caso, como tanto a língua de origem quanto a receptora são herdeiras do latim medieval – que, por sua vez, era fruto do latim tardio (sécs. III-VII) – o processo de transferência de conteúdo não é tão distante culturalmente.54
No entanto, como a tradição ocidental sofreu violentas rupturas culturais desde a Revolução Francesa (1789-1799), especialmente em sua relação com o Cristianismo, a compreensão mais profunda do pensamento calcado na religião ficou mais difícil.55
Assim, traduzir um texto religioso de um sincero convertido ao Catolicismo como Ramon Llull para uma língua contemporânea (laicizada) sem ferir sua visão de mundo, sua Weltanschauung – ou seja, sem inserir a malícia da hipercrítica em suas intenções – se transforma em um verdadeiro tour de fource mental.56 Qual a chave compreensiva do ponto de vista gramatical? Deixar o texto traduzido o mais próximo possível do original.
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Notas
- 1. Para Dura Europos, ver GUTMANN, Joseph (ed.). The Dura Europos Synagogue: A Re-evaluation (1932-1992), Scholars Press, 1992.
- 2. “Dura Europos Synagogue: Moses and the Burning Bush”. In: Tali. Educating for Jewish Pluralism.
- 3. Ex 3, 14.
- 4. SLAVUTZKY, Abrão (org.). A Paixão de Ser. Depoimentos e ensaios sobre a identidade judaica. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1998.
- 5. Jo 1, 1.
- 6. Sl 103, 14.
- 7. SANTO AGOSTINHO. A cidade de Deus (trad., prefácio, nota biográfica e transcrições de J. Dias Pereira). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993, vol. II (Livro IX a XV), p. 925 (Livro X, cap. XV).
- 8. STEINER, George. Aqueles que queimam livros. Belo Horizonte: Editora Âyiné, 2017, p. 32.
- 9. Mc 16, 15.
- 10. BAUCHWITZ, Oscar Federico; BEZERRA, Cícero Cunha (orgs.). Imagem e Silêncio. Atas do I Simpósio Ibero-Americano de Estudos Neoplatônicos. Tomo I: do Neoplatonismo Pagão ao Neoplatonismo Medieval. Natal, RN: Editora da UFRN, 2009.
- 11. Já na época imperial romana, “...não havia ansiedade quanto à possibilidade de o judaísmo conquistar conversos.” – SCHAMA, Simon. A história dos judeus. À procura das palavras – 1000 a.C.-1492 d.C. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 187.
- 12. MIQUEL, André. O Islame e sua civilização. Lisboa: Edições Cosmos, 1971, p. 53.
- 13. RAMÓN GUERRERO, Rafael. Historia de la Filosofía Medieval. Madrid: Akal, 2002.
“Só entre os séculos I e VII, no início do período medieval, ocorreu já um aumento considerável na perspectivação intelectual do cristianismo (...) os autores dos seis primeiros séculos da era cristã, manifestando um especial interesse pela fundação do pensamento da Igreja, poderão ser considerados os brain-stormers de uma teologia cristã. O seu enorme interesse pela doctrina Christiana levou a uma intelectualização do conjunto de rituais e crenças Cristãs, a que até então faltava uma formulação abstracta.” – PRICE, B. B. Introdução ao Pensamento Medieval. Lisboa: Edições Asa, 1996, p. 62-63. - 14. Para as especificidades plásticas do latim para expressar as sutilezas intelectuais do Cristianismo, ver FLASCH, Kurt. El pensament filosòfic a l’Edat Mitjana. Santa Coloma de Queralt: Obrador Edèndum, 2006, p. 127-128.
- 15. Biblia Vulgata Latina (Biblia Sacra iuxta Vulgatam Clementinam) (ed.: Alberto Colunga y Lorenzo Turrado). Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos (BAC), 2005.
- 16. RAMON LLULL. A disputa entre Pedro, o clérigo, e Ramon, o fantástico (1311) (trad. e notas: Ricardo da Costa).
- 17. “Embora o exemplum luliano esteja inserido na pregação urbana característica do século XIII, ele não se enquadra exatamente na definição do exemplum clássico medieval – um relato breve e verídico para ser inserido num sermão ou discurso de fundo teológico com o objetivo de convencer uma platéia através de uma lição moral. Oriundo da retórica antiga – a partir de Aristóteles (exemplum – paradeigma) – o exemplum medieval possuía uma estrutura literária bastante rígida e repetitiva, pois era normalmente destinado a um auditório iletrado. Por sua vez, o exemplum luliano nunca é realista e não pretende ter um valor de documento histórico. Embora o objetivo seja o mesmo, o de converter ou reformar através de histórias moralizantes, Ramon busca sempre uma atemporalidade e uma utopicidade aplicáveis universalmente.” – COSTA, Ricardo da. “Apresentação: a novela na Idade Média: O Livro das Maravilhas (1288-1289) de Ramon Llull”. In: RAIMUNDO LÚLIO. Félix ou O Livro das Maravilhas. Parte I (apres., trad. e notas: Ricardo da Costa). Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal - 95. São Paulo. Editora Escala, 2009, p. 16.
- 18. RAIMUNDO LÚLIO. Félix ou O Livro das Maravilhas. Parte I (apres., trad. e notas: Ricardo da Costa). Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal - 95. São Paulo. Editora Escala, 2009; RAIMUNDO LÚLIO. Félix ou O Livro das Maravilhas. Parte II (apres., trad. e notas: Ricardo da Costa). Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal - 96. São Paulo. Editora Escala, 2009.
- 19. Poemas de Ramon Llull. Desconsolo (1295) – Canto de Ramon (1300) – O Concílio (1311) (trad.: Ricardo da Costa e Tatyana Nunes Lemos). Alicante: e-Editorial IVITRA, 2010.
- 20. RAIMUNDO LÚLIO. O Livro dos Mil Provérbios (1302) (apres., trad. e notas: Ricardo da Costa e Grupo de Pesquisas Medievais da UFES II). Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal - 68. São Paulo: Editora Escala, 2007.
- 21. BADIA, Lola; SANTANACH, Joan; SOLER, Albert. “Llengua i literatura segons Ramon Llull”. In: Mot so razo, vol. 10, 2012, p. 88.
- 22. FIDORA, Alexander. “La Escuela de traductores”. In: GONZÁLVEZ RUIZ, Ramón (dir. y coord.). La Catedral primada de Toledo. Dieciocho siglos de historia. Toledo: Promecal Publicaciones, 2010, pp. 480-491.
- 23. MENOCAL, Maria Rosa. O ornamento do mundo. Rio de Janeiro: Record, 2004.
- 24. COLOM FERRÁ, Guillermo. “Ramon Llull y los orígenes de la literatura catalana”. In: Studia lulliana, vol. 13, nº. 38-39, 1969, p. 133.
- 25. GADAMER, Hans-Georg. “Sobre a verdade da palavra (1971). In: GADAMER, Hans-Georg. Hermenêutica da Obra de Arte. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010, p. 31.
- 26. BADIA, Lola. Teoria i pràctica de la literatura en Ramon Llull. Barcelona: Quaderns Crema, 1992, p. 75-76.
- 27. ZINK, Michel. “Literatura(s)”. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude (coords.). Dicionário Temático do Ocidente Medieval II. Bauru, SP: EDUSC; São Paulo, SP: Imprensa Oficial do Estado, 2002, p. 79-80.
- 28. BONNER, Anthony; RIPOLL PERELLÓ, Maria Isabel. Diccionari de definicions lul∙lianes. Palma: Servei de Publicacions de la UIB, 2002, p. 133.
- 29. RUBIÓ, Jordi. “L’expressió literària en l’obra lulliana”. In: RAMON LLULL. Obres Essencials. Volum Primer. Barcelona: Editorial Selecta, 1957, p. 86.
- 30. DOMÍNGUEZ REBOIRAS, Fernando. “Soy de libros trovador”. Catálogo y guía a las obras de Raimundo Lulio. Madrid: Editorial Sinderésis, 2018, p. 35.
- 31. VILLALBA I VARNEDA, Pere. Ramon Llull. Escriptor i Filòsof de la Diferència. Palma de Mallorca, 1232-1316. Bellaterra: Universitat Autònoma de Barcelona, 2015, p. 101.
- 32. RUBIO ALBARRACÍN, Josep Enric. “Introducció”. In: RUBIO ALBARRACÍN, Josep Enric (a cura). Ramon Llull. Llibre de Contemplació. Antologia. Barcelona: Editorial Barcino, 2009, p. 26.
- 33. SANTO AGOSTINHO. A Cidade de Deus (tradução, prefácio, nota biográfica e transcrições de J. Dias Pereira). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 3 volumes, 1991, 1993, 2011.
- 34. DANTE ALIGUIERI. A Divina Comédia (trad. e notas de Eugenio Mauro). São Paulo: Ed. 34, 03 volumes, 1998.
- 35. SANTO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica
- 36. RAMON LLULL. Obres Essencials. Volum Segon. Barcelona: Editorial Selecta, 1960, p. 686.
- 37. Todas as traduções do Livro da Contemplação são de nossa autoria e foram feitas tomando como base o texto em catalão antigo da edição RAMON LLULL. Obres Essencials. Volum Segon. Barcelona: Editorial Selecta, 1960, cotejado com as opções de tradução da edição espanhola RAMON LLULL. Libro de Contemplación en Dios (introd.: Julia Butiña; trad. y notas: Matilde Conde, Carmen Teresa Pabón, Maria Lluïsa Ordóñez y José Higuera). Madrid: Palas Atenea Editora, 2018, 2019 y 2020, 3 volúmenes.
- 38. BUTIÑÁ, Julia. “La primera traducción del Libro de Contemplación en Dios”. In: Revista de Lenguas y Literaturas Catalana, Gallega y Vasca 25, 2020, p. 329.
- 39. “Dado que en las presentaciones de los anteriores volúmenes —como co-ordinadora— atendí a la complejidad de la tarea traductora, así como de las principales soluciones adoptadas, aquí sólo aludiré al principal objetivo: el de lograr un punto dulce entre la lengua original y la de llegada...” (os grifos são meus) – BUTIÑÁ, Julia. “Sobre la dinamicidad de Llull a través del Libro de Contemplación en Dios”. In: Revista de Lenguas y Literaturas Catalana, Gallega y Vasca 27, 2022, p. 160.
- 40. GADAMER, Hans-Georg. “Ler é como traduzir (1989). In: GADAMER, Hans-Georg. Hermenêutica da Obra de Arte. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010, p. 128.
- 41. COSTA, Ricardo da. “A experiência de traduzir a novela Curial e Guelfa (séc. XV) para a língua portuguesa”. In: SCRIPTA, Revista internacional de literatura i cultura medieval i moderna, vol. 22 / núm. 22 / desembre 2023 / p. 641.
- 42. RUBIO ALBARRACÍN, Josep Enric. “Introducció”. In: RUBIO ALBARRACÍN, Josep Enric (a cura). Ramon Llull. Llibre de Contemplació. Antologia. Barcelona: Editorial Barcino, 2009, p. 19.
- 43. “SAMFONIA (f. ant.) – 1. Flauta de Pan; cast. zampoña.” – Diccionari catalã-valencià-balear. Institut d’Estudis Catalans.
- 44. “Os instrumentos de palheta (geralmente dupla, como no oboé) são representados pelas charamelas (charamele, piffera ou caramela), pelas bombardas (uma quinta mais baixas) e pelas dulcinas, de um tubo mais estreito e timbre velado.” – CANDÉ, Roland de. História Universal da Música. Volume 1. São Paulo: Martins Fontes, 1994, p. 231.
- 45. Diccionari catalã-valencià-balear. Institut d’Estudis Catalans.
- 46. DOMÍNGUEZ REBOIRAS, Fernando. Ramon Llull. El mejor libro del mundo. Barcelona: Arpa Editores, 2016, p. 216.
- 47. Pr 19, 27.
- 48. Fl 1, 8.
- 49. VEGA, Amador. Ramon Llull y el secreto de la vida. Madrid: Ediciones Siruela, 2002, pp. 17-23.
- 50. SCHIEWER, Gesine Lenore; ROCHE, Jörg. “Horizontverschmelzung”. In: Digitales Lexicon Fremdsprachendidakitk.
- 51. Jo 14, 6. Ver também FIDORA, Alexander. “La Bíblia en Ramon Llull: exegesi i raó especulativa”. In: SANTANACH, Joan; FERRER, Joan; ADROHER, Sergi Dalemus. La Bíblia en la literatura catalana. Girona: Institut de Llengua i Cultura Catalanes de la Universitat de Girona; Tarragona: Associació Bíblica de Catalunya; Barcelona: Ateneu Universitari Sant Pacià; Editorial Barcino, 2022, p. 101-121.
- 52. VAN DYKE, Christina. “‘Lewd, Feeble, and Frail’. Humility Formulae, Medieval Women, and Authority”. In: PASNAU, Robert (ed.). Oxford Studies in Medieval Philosophy Volume 10. Oxford University Press, 2022, pp.1-23.
- 53. VILLALBA I VARNEDA, Pere. Ramon Llull. Escriptor i Filòsof de la Diferència. Palma de Mallorca, 1232-1316, op. cit., p. 81.
- 54. MESA SANZ, Juan Francisco (ed.). Latinidad medieval hispânica. Firenze: Sismel ∙ Edizioni del Galluzzo, 2017.
- 55. OZOUF, Mona. “Descristianização”. In: FURET, François; OZOUF, Mona. Dicionário Crítico da Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989, pp. 26-39.
- 56. “Em alemão, a palavra refere-se literalmente a uma ‘visão’ (Anschauung) intuitiva do ‘mundo’ (Welt), por conseguinte, a ‘visões do mundo’ ou a valores ou princípios culturais subjacentes que definem a filosofia da vida ou a concepção do universo de uma sociedade ou grupo. Popularmente, o conceito tem sido usado para fazer referência a qualquer sistema geral de crença (cristão, liberal, pagão etc.).” – MORROW, Raymond A. “Weltanschauung”. In: OUTHWAITE, William; BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento social do século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996, p. 805.